Eu não estava querendo me expor MUITO com o assunto, mas me sinto na obrigação moral de fazê-lo. Vai ai um pouco de luz.
Amigos leigos, por favor, leiam, foi escrito para vocês. Amigos
cientistas, por favor, não sejam detalhistas e puristas, eu escrevi para
leigos e não para vocês, logo eu mesmo posso já ver vários de
vocês criticando várias generalizações e explicações simplificadas, mas
podem ler também e ajudar neste trabalho de conscientização geral. Isto
é parte da sua função como cientista. Você deve orientações gerais à
população.
Por que há laboratórios que fazem os testes in vitro?
Há testes que podem ser feitos in vitro, outros não. Por exemplo, se a sua pergunta for simples, do tipo:
1 – este medicamento mata as células do intestino? Posso facilmente
colocar células intestinais em cultura, in vitro e adicionar o
medicamento para avaliar se há morte ou não. Eu faço isso MUITO. Eu
trabalho com moléculas que tem o potencial de inibir o crescimento de
tumores. Eu quero saber o quanto elas inibem o crescimento tumoral,
portanto tenho no laboratório células tumorais em cultura e testo estas
moléculas sobre estas células, sem utilizar nenhum animal.
2 –
ou se a sua pergunta for: este cosmético promove o aumento da expressão
da proteína X, que está associada com rejuvenescimento? Facilmente se
faz isso in vitro e se obtem a resposta. Colocam-se células da pele em
cultura, tratam-se estas células com o cosmético e depois são feitos
testes pra saber se tem mais da proteína X ou não.
No entanto,
há perguntas que são muito importantes e que só podem ser respondidas
com estudos feitos em animais. Por que? Porque existem muitos fatores
envolvidos na resposta e não há como mimetizar todos estes fatores in
vitro, nem NUNCA haverá, nem aqui, nem na Europa e nem nos EUA. Vamos
ver alguns exemplos.
1 – Já descobri in vitro que a molécula
que eu estava estudando mata células tumorais. Agora, eu preciso saber
se ela faz isso quando o tumor está em um organismo vivo. Por que?
Porque eu preciso saber se ao dar esta droga por via oral, por exemplo,
ela não é degradada por enzimas do trato gastrointestinal; se é
absorvida por este e vai parar na corrente sanguínea; se vai parar na
corrente sanguínea toda de uma vez, podendo ser tóxica ou até letal ou
se vai atingindo esta aos poucos; sendo aos poucos, se chega a
apresentar concentração adequada ao redor do tumor; se na corrente
sanguínea, sofre influência de alguma outra molécula que pode bloquear
sua ação, porque se liga a ela não a deixando disponível para agir; se
ela se distribui por igual pelo corpo ou se concentra toda em um único
órgão; se ela atinge o tumor ou por algum motivo não passa por este; se
ela é tóxica para algum órgão que eu não consegui prever; se ao passar
pelo fígado ela é transformada e em que ela é transformada; se a
molécula na qual ela foi transformada ainda é ativa e não tóxica; se a
própria molécula e seus produtos de transformação são excretados pelos
rins; se são excretados imediatamente a ponto de nem ficarem tempo
suficiente no sangue ou se ficam circulantes por dias, o que me
auxiliaria a definir dose e posologia.....e eu poderia continuar citando
uma série de perguntas aqui que não podem ser respondidas in vitro e
que são IMPORTANTÍSSIMAS, mas vamos para outro exemplo, porque eu estou
empolgado.
2 – Você desenvolveu um medicamento que tem o
potencial de diminuir a pressão arterial. A pressão arterial de forma
muito grosseira, é a pressão exercida pelo sangue sobre os vasos
sanguíneos. Há várias “pressões” em sentidos opostos que se contrapõem e
o organismo regula finamente o volume de líquido que vai estar no vaso
para manter a pressão adequada, o que é importante para o sangue
circular por todos os vasos. A regulação do quanto de volume vai estar
nos vasos e o calibre destes vasos, que também varia, depende de vários
sistemas. Por exemplo, o FÍGADO produz uma molécula chamada
angiotensinogênio, que fica circulante o tempo todo. Quando os RINS
detectam que há perda de pressão, estes produzem uma enzima chamada
renina, que converte o angiotensinogênio que o FÍGADO fez em
angiotensina I. A angiotensina I atua sobre os vasos e consegue fazer
com que se contraiam. Faz sentido, não? Já que a pressão está baixa,
vamos diminuir o calibre dos vasos na tentativa de manter esta pressão
(sim, aquela 12x8 que vc conhece). Esta ação integrada entre FÍGADO e
RINS pode não ser suficiente, então os PULMÕES entram na jogada e
produzem uma enzima chamada ECA (enzima conversora da angiotensina),
esta por sua vez, converte a angiotensina I em angiotensina II e esta II
tem um poder de promover contração dos vasos muito maior do que a I.
Este é UM DOS mecanismos de manutenção da pressão arterial. UM DOS, dos
mais simples e envolve FÍGADO, RINS, PULMÕES e CÉLULAS DOS VASOS e não é
apenas UM TIPO de célula de cada um destes órgãos. Como estudar isso in
vitro? Existem vários medicamentos que são inibidores da ECA, como
captopril, enalapril, que muitos de vocês usam. Descobrir como funciona
este mecanismo, desenhar moléculas (medicamentos) que atuem sobre este
mecanismo de modo a favorecer quem sofre com hipertensão ou até mesmo
hipotensão, SERIA IMPOSSÍVEL sem o uso de animais.
3 – Como
testar uma vacina, como a para HIV que todos tanto querem, in vitro,
sendo que deve haver a compreensão plena da atuação de todo o sistema
imune, envolvendo vários tipos diferentes de linfócitos, macrófagos,
células de Langerhans e outras e que estão estrategicamente distribuídas
como que em trincheiras em linfonodos, nas mucosas, no baço, na medula?
4 – Como estudar memória, depressão, ansiedade em células que não
aprendem nada e não expressam emoção? Como estudar os efeitos do
envelhecimento sobre o cérebro senão acompanhando o envelhecimento de
animais e analisando em detalhes tudo que está acontecendo em seus
cérebros, ao mesmo tempo avaliando o efeito de atividade física e
medicamentos sobre este “envelhecimento”? Poderíamos estudar o cérebro
da sua avó que está perdendo a memória? Poderíamos, mas não resultaria
em nada, porque não se pode estudar um único animal e mesmo que
tivéssemos 100 avós, cada uma teria idade diferente, cada uma faria
atividades de lazer diferentes, cada uma se alimentaria de forma
diferente e sofreria estresse diferente. Como avaliar se o efeito
observado é da intervenção medicamentosa ou do carinho a mais que uma
recebe do neto e a outra não? Colocaríamos as 100 avós em cativeiro e as
alimentaríamos com a mesma ração, expondo todas o mesmo tempo à luz
solar e as colocaríamos pra correr numa rodinha de hamster todas ao
mesmo tempo ao longo de 20 anos pra ver o que acontece com as que usam
um medicamento em teste e outras que não? Os animais envelhecem mais
rápido, portanto em 2 anos pode-se obter resultados finais que em
humanos levaria décadas. Alguém já parou pra pensar quantos destes
beagles não faziam parte de experimentos que estavam sendo desenvolvidos
ao longo de anos, porque os resultados são lentos para alguns testes?
Quanto de destruição patrimonial e para a ciência esta ação não pode ter
causado? Será que a sua avozinha com Alzheimer não estava pra ser
beneficiada com uma observação que vinha sendo feita já por anos com
aqueles beagles e agora toda esta análise se perdeu?
Na minha
tese de doutorado eu fiz 3,5 anos de experimentos in vitro e apenas nos
últimos 2 meses usei camundongos para confirmar se o que eu achei in
vitro valia in vivo. Por que não fiz tudo em animais? Porque SEMPRE
evitamos ao máximo, porque além de TUDO é caro, mais trabalhoso, mais
difícil de fazer e analisar e muitas vezes não dá as respostas que
queremos. Sempre tentamos utilizar os sistemas mais simples possíveis.
Só se usa animal quando não há outra forma de responder nossas perguntas
e estas perguntas são avaliadas por comitês de ética para todos terem
certeza de que não há mesmo outra forma de fazer o experimento.
Inclusive o número de animais e tudo que vai ser feito com eles é
estudado por estes comitês e discutido.
Os laboratórios que
fazem in vitro, não fazem isso porque são bonzinhos. Fazem isso porque
têm perguntas que podem ser respondidas in vitro e ainda se aproveitam
de vocês zooxiitas usando este marketing falso, querendo dizer que
evitam o uso de animais, porque são contra. Não usam animais
simplesmente porque não precisam e nem teriam como usar, porque suas
perguntas são respondidas por outros sistemas. NÃO existe isso de que
algum laboratório desenvolveu um sistema que agora estuda in vitro o que
antes era feito em animais. O que pode e precisa ser feito in vitro é
feito in vitro; o que pode e precisa ser feito em animais é feito em
animais. Vocês zooxiitas estão sendo usados como massa de manobra dos
marketeiros destas empresas. É igual quando vemos na embalagem de um
picolé de frutas a informação “não contem gordura trans”. CLARO que não
contem!!! É um picolé de frutas e não contem gordura NENHUMA, porque
raios teria trans? Jogada de marketing, porque os marketeiros sabem que
tem um monte de gente que vai comprar mais se tiver escrito este tipo de
coisa. Agua mineral, SEM GORDURA TRANS.
Meus cosméticos são
desenvolvidos sem testes em animais. CLAAAAAAAARO. Que tipo de testes
precisam fazer em animais? Nenhum. Tudo dá pra fazer in vitro. Se
aproveitam de vocês.
Mas na Europa e nos EUA existem movimentos
contra experimentação em animais. CLARO!!! Morei anos nos EUA e posso
aqui listar muitas porcarias que existem lá, assim como na Europa. Gente
ignorante que protesta por emoção sem saber do que está falando existe
em todos os continentes.
Espero que isto tenha esclarecido ao
menos parcialmente, de alguma forma, porque se faz experimentação SÉRIA E
CUIDADOSA em animais e vai se continuar fazendo.
Resposta:
[Elisa, UFF]
Isso
que ele falou imagino que não seja novidade pra maior parte das pessoas
e é o argumento que tenho visto ser usado por todo mundo que ficou puto
com a história dos beagles. Só que, segundo as reportagens que eu li,
eles eram usados em testes de cosméticos,
e não vi ninguém abordar esse assunto até agora. Existem várias
empresas gigantes de cosméticos, como Maybelline e Johnson's, que testam
em animais. Mas outras empresas igualmente gigantes, como Nivea e
Boticário, não testam em animais e isso não as impede de ter produtos de
igual qualidade, não raro até superior, nem de lançar com frequência
coisas inéditas, o que sugere que elas não estão simplesmente copiando
de quem testa em animais, e sim desenvolvendo pesquisas próprias.
Realmente não sei o que explica isso, adoraria ver alguém da área tocar
nesse assunto ao invés de falar pela milésima vez o óbvio, que remédios
são complexos demais pra teste in vitro. Mas, como leiga, a comparação
entre essas empresas e suas posturar éticas só pode me levar a concluir
que é perfeitamente possível produzir produtos cosméticos de qualidade
sem torturar animais no processo.
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