Como sobreviver ao fascismo
1. Em primeiro lugar, calma. O medo é natural e inevitável. O importante é evitar o segundo estágio: o pânico. Porque o pânico gera ações irracionais que só agravam o problema da segurança. Reconheça as ameaças, mas não aumente o valor delas. Não difunda videos que mostrem o adversário em posição de superioridade. Exceto se for para denunciar uma violência que você sabe ser real. Não difunda mensagens pessimistas e de medo. Nem bazófias autossuficientes de heróis de teclado que nada farão. Seja discreto.
2. seja discreto. Se possível saia de algumas redes sociais. Informe-se com os companheiros anarquistas sobre segurança digital. Se tiver que usar para trabalhos escolares ou relações pessoais, não poste coisas polêmicas, mas também não fique em grupos emq ue haja fascistas declarados. Eles sabem sua opinião, vão provocá-lo. Mesmo se for um parente seu, pode inadvertidamente denunciar você para alguém que conhece seu patrão, por exemplo.
3. Não faça atividade política sozinho. Não vista roupas com mensagens revolucionárias sozinho. Não aceite provocações na rua. Especialmente em bares e festas. Ali, todos poderão estar animados por drogas para exercitar mais a violência. Mas, de novo, também não fique em pânico. Fascistas são covardes. Não agridem sozinhos, apenas em bandos. Desvie de bandos. Não rebata ofensas, mas não se deixe humilhar. Vá embora. Não ameace ninguém. Se preciso, pode se vingar, mas não avise antes, por supuesto.
4. Faça reuniões mensais com pessoas que pensam como você. Isso reforça a sensação de que não está só. Busque alegria em jantares e pequenas festas. Evite as grandes. Seja solidário com companheiros perseguidos, mas faça como Cristo manda: ninguém precisa saber que você ajudou.
5. Sem prejuízo de outros, leia livros de quem enfrentou o fascismo: Durruti, Stalin, Trotsky, Gramsci, Dimitrov e, especialmente, Togliatti. Não tenha preconceito ideológico agora. Só com a extrema direita.
6. Cuide da saúde física também. Faça algum esporte leve pelo menos. Caminhada, bicicleta. Sinta o vento ao rosto. Beba com moderação. Encha a cara de vez em quando com os amigos. De preferência em locais já bem conhecidos.
7. O fascismo no Brasil vai ficar por algum tempo na sua primeira fase. Aquela de Mussolini entre 1922 e 1926. Com parlamento funcionando, mas com violências dispersas, perseguições, delações, achincalhamento virtual, invasão de espaços culturais e universitários por bandos de energúmenos, agressões físicas, repressão a manifestações públicas e assassinatos de pobres na periferia. Eu sei que isso já acontecia, mas agora é outro patamar. Mas haverá espaço para crítica e este é o problema que comentaremos no pŕoximo item.
8. O espaço de crítica tem que ser usado com cuidado. Os fascistas marcarão o que você diz. Se considerarem que ameaça seu poder, reagirão. Por isso, apareça menos. Procure reforçar suas ideias lateralmente, com temas menos explícitos. Participe de instituições de sua categoria mesmo dirigidas por reacionários e observe. No cotidiano, converse com as pessoas sem agressividade. Ouça. Avalie seu interlocutor. Se ele for militante fascista, abandone-o. Se for um apoiador indeciso, introjete em sua mente conteúdos críticos. Para que ele vá além da aparência. Dialética é isso. Diálogo mais contradição. Não há ideologia sem o seu contrário. E se for uma pessoa democrata, busque consensos em torno disso, como explicarei no próximo item.
9. Uma derrota histórica da esquerda, joga também os liberais e conservadores democratas no mesmo terreno que nós. Assim como o golpe de 2016 fez a classe trabalhadora recuar e abandonar as novas formas de ação política, agora ela vai se agarrar ao mínimo comum: a democracia que lhe garante um terreno para defender os seus direitos. Com os trabalhadores devemos falar de democracia e economia porque eles são mais inteligentes. Com a pequena burguesia democrática devemos falar de democracia porque além disso teremos divergências inoportunas.
10. Nada está perdido. Confie na história. Já houve momentos piores. Estamos num ciclo recessivo associado à derrota de um ascenso político de esquerda. Leia poemas e mensagens otimistas de Mao, Ho Chi Minh, Brecht, as Instruções para esquivar o mau tempo de Paco Urondo e outros. Cuidado ao portar livros porque fascistas não leem e desconfiam de leitores. Use capas anódinas, cobertas de outro papel. Mas não desista, o fascismo é em si mesmo uma reação desesperada de uma classe agonizante. Parece eterno. Não é. Será derrotado como o foi em todas as outras ocasiões da história.
Alex Prouchnoj
o sol no cafofo! Rodo cotidiano, Rabiscos voadores... As anotações mais urgentes e mais tortas pelo tempo! "Eu sempre espero uma coisa nova de mim, eu sou um frisson de espera - algo está sempre vindo de mim ou fora de mim." C.
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domingo, 28 de outubro de 2018
Fácil ser branco e compartilhar isso. Mas olhando pelo lado de saber de quem se tratam seus opositores:
"Eu acho tudo isso que está acontecendo positivo no macro, embora esteja sendo dificílimo no micro. Explico: todo esse ódio, toda essa ignorância, essa violência, isso tudo já existia ao nosso redor. Agora é como se tivessem tirado da gente a possibilidade de fingir que não viu. Caíram as máscaras. O Brasil é um país construído em bases violentas, mas que acreditou no mito do "brasileiro cordial". Um país que deu anistia a torturadores e fingiu que a ditadura nunca aconteceu. Que não fez reparação pela escravidão e fala que é miscigenado e não é racista. Nós fechamos muitas feridas históricas sem limpar e agora elas inflamaram. Estamos sendo obrigados a ver que o Brasil é violento, racista, machista e homofóbico. Somos obrigados a falar sobre a ditadura ou talvez passar por ela de novo. Estamos olhando para as bases em que foram construídas nossas famílias e dizendo “Essa violência acaba em mim. Eu não vou passar isso adiante.” Como todo processo de cura emocional, esse também envolve olhar pras nossas sombras e é doloroso, sim, mas é o trabalho que calhou à nossa geração.
O lado positivo é que, agora que estamos todos fora dos armários, a gente acaba descobrindo alguns aliados inesperados. Percebemos que se há muito ódio, há ainda mais amor. Saber que não estamos sós e que somos muitos nos deixa mais fortes. Precisamos nos fortalecer, amores. Essa luta ela não é dos próximos 15 dias, é dos próximos 15 anos. Mais: é a luta das nossas vidas. Não cedam ao desespero. Não entrem na vibe da raiva. Não vai ser com raiva que vamos vencer a violência. E se preparem, tem muito chão pela frente."
Peter Pál Pelbart - filósofo, ensaísta, professor e tradutor húngaro residente no Brasil.
"Eu acho tudo isso que está acontecendo positivo no macro, embora esteja sendo dificílimo no micro. Explico: todo esse ódio, toda essa ignorância, essa violência, isso tudo já existia ao nosso redor. Agora é como se tivessem tirado da gente a possibilidade de fingir que não viu. Caíram as máscaras. O Brasil é um país construído em bases violentas, mas que acreditou no mito do "brasileiro cordial". Um país que deu anistia a torturadores e fingiu que a ditadura nunca aconteceu. Que não fez reparação pela escravidão e fala que é miscigenado e não é racista. Nós fechamos muitas feridas históricas sem limpar e agora elas inflamaram. Estamos sendo obrigados a ver que o Brasil é violento, racista, machista e homofóbico. Somos obrigados a falar sobre a ditadura ou talvez passar por ela de novo. Estamos olhando para as bases em que foram construídas nossas famílias e dizendo “Essa violência acaba em mim. Eu não vou passar isso adiante.” Como todo processo de cura emocional, esse também envolve olhar pras nossas sombras e é doloroso, sim, mas é o trabalho que calhou à nossa geração.
O lado positivo é que, agora que estamos todos fora dos armários, a gente acaba descobrindo alguns aliados inesperados. Percebemos que se há muito ódio, há ainda mais amor. Saber que não estamos sós e que somos muitos nos deixa mais fortes. Precisamos nos fortalecer, amores. Essa luta ela não é dos próximos 15 dias, é dos próximos 15 anos. Mais: é a luta das nossas vidas. Não cedam ao desespero. Não entrem na vibe da raiva. Não vai ser com raiva que vamos vencer a violência. E se preparem, tem muito chão pela frente."
Peter Pál Pelbart - filósofo, ensaísta, professor e tradutor húngaro residente no Brasil.
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