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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Crianças e adolescentes esposas

Brasil desconhece a realidade de 554 mil garotas de 10 a 17 anos que são esposas


O tema passou a me doer. A reportagem “Noivas Meninas” está nas bancas, na edição de janeiro, de CLAUDIA – um fôlego que juntou o fotógrafo Victor Moriyama, a estagiária Gabriela Abreu e eu. A primeira descoberta: não se trata apenas de casos em um grotão perdido. O casamento infantil ocorre na maior economia brasileira – a cidade de São Paulo -, na região metropolitana de Curitiba, no Tocantins, em Minas, nas capitais do Pará e Maranhão… Difícil descobrir onde não tem. Hoje, 554 mil garotas de 10 a 17 anos são casadas, calcula um estudo do Instituto Promundo, com base no IBGE, publicado em setembro passado. Como a lei considera crime o sexo com menores de 14, mesmo que consensual, a maioria das uniões é informal. Ainda assim, em 2013, Campo Grande casou no cartório o maior número de brasileirinhas. Partimos atrás de uma amostra nacional. O texto começa assim:
“Catingueiras magricelas e peladas, sol forte, uma cabrita, um bode e algumas galinhas são quase tudo que Ivonete Santos da Silva, 14 anos, vê ao longo do dia e por semanas a fio. Mãe de Rayslani, 1 ano, ela dorme cedo. A casa de taipa onde vive, no sítio Lagoa Nova, em Inhapi (AL), a 289 quilômetros da capital, Maceió, não tem lâmpadas nem TV. Ivonete juntou-se aos 12 anos com Sislânio Silvério, 21, seu primo. Deixou a escola sem aprender a unir as letras: “Era aperreio demais, tudo acontecia na hora do almoço, tinha que fazer comida, me arrumar, sair para estudar”. Não se arrepende. “Só quando estou bem estressada, limpando a casa, e a menina acorda chorando, penso: ‘Meu Deus, o que eu fiz?’ ” Ainda assim, considera que está melhor do que no tempo em que vivia na casa materna. “Um dia, saí calada, o povo estava todo lá pra dentro. Fui embora com Sislânio.” Ele trabalha na roça. Quando tem roça. Há cinco anos, o sertão enfrenta uma seca bruta; a terra está tão dura que é impossível plantar. Na única panela, no fogãozinho de barro, há feijão. Ivonete não faz planos, não pronuncia desejos – pelo menos a estranhos que invadem sua rotina -, mas responde como se sente: “Não sei direito. Sou um pouco mulher, pequena demais, meio criança também”. Quando fecha os olhos, do que se lembra? “De mim desenhando pé de maçã, árvore de morango.” Mesmo que morangos amadureçam a não mais que 30 centímetros do chão, era esse seu deleite na sala de aula. Queria ser professora, acha que não dá mais tempo. “Espero que minha filha case bem tarde, só com 17 anos, e não engane a escola para aprender tudo bem direitinho”, diz.
Depois de Inhapi, percorremos Canapi (AL), Colombo (PR), e uma das maiores favelas do país, Heliópolis – não haveria nenhuma dificuldade de encontrar meninas casadas nessa comunidade paulistana. Enquanto Victor fotografava, ali, Thainá Darri, 17 anos, casada desde os 15, dezenas de meninas iam se juntando para saber o que fazíamos. Dei a pauta e elas quiseram saber porque tanta curiosidade sobre algo tão comum. Várias, entre 14 e 16, carregavam um filho.
Thainá é um caso diferente, tem uma consciência política clara, é feminista, está no conselho do meio ambiente da região e é a única das entrevistadas que concluiu o segundo grau. Acabava de receber o resultado do laboratório – positivo para gravidez – e decidiu adiar os planos de fazer uma faculdade. No seu discurso, me chamou a atenção a explicação para seu casamento aos 15: queria privacidade com o namorado e, de certa forma, proteção. “Aqui, as meninas se jogam no funk, bebem e nem sabe quem é o pai do filho delas. O casamento me poupou disso.”
.”
Brasil desconhece a realidade de 554 mil garotas de 10 a 17 anos que são esposas
Brasil desconhece a realidade de 554 mil garotas de 10 a 17 anos que são esposas
Mãe de Michel Júnior, casada em Canapi desde os 14, Ana Clara dos Santos, 16, fugiu de casa para ficar com seu amado, Jaílson de Oliveira, na época com 16. Duro para ambos é deixar o bebê aos cuidados da mãe de Ana, porque eles não têm condição financeira de criá-lo. A alagoana Jamille Henrique ganhou, aos 14, uma aliança e se viu livre da lida pesada com seus oito irmãos, além do jugo do pai alcoólatra. Embora tenha em Marcelo um parceiro divertido, e com quem gosta “de brincar e de fazer sexo”, seu semblante é triste e sua concepção sobre a vida de mulher, medonha: “Todas apanham. Não acho bom, mas é o que acontece”.
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Monique Barbosa, aos 15, parece uma madonna, de Michelangelo, com sua Maria Clara sempre a tiracolo. Essa Pietá de Colombo (PR), queria ser policial, mas desistiu, está fora da escola, cansada dos afazeres domésticos e do ciúme do marido. Na mesma cidade, Joyce Pinheiro, mãe de gêmeas aos 15, teme as estrias e que o marido a troque por uma menina mais magrinha. Ela conta: “Das 20 colegas que estudavam comigo, 16 estão casadas ou são mães solteiras”. Ouvimos vários especialistas para entender o fenômeno.
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Saio das reportagens carregando as personagens em mim. Demoro a tirá-las do pensamento. Ivonete, a sertaneja do sítio sem luz, me abraçou longamente quando nos despedimos. Prometi enviar uma revista para alguém ler para ela. E também uma fotografia ampliada. Essa menina-mãe nunca teve uma foto sua. De todas as personagens, foi a que mais interagiu com a câmera. Tem uma força no olhar inexplicável. Encarava as lentes de Victor com muita naturalidade e firmeza. Fico imaginando como Ivonete fará para desamarrar o nó, desbancar seu destino e vencer as agruras todas que enfrenta desde o nascimento. Algo me diz que ela vai conseguir.

Fonte: Pensador Anônimo

http://pensadoranonimo.com.br/brasil-desconhece-a-realidade-de-554-mil-garotas-de-10-a-17-anos-que-sao-esposas/

sábado, 18 de julho de 2015

Conto de fadas ou guerreiros sem guerra

Texto de 29 de dezembro de 2014

Conto de fadas ou guerreiros sem guerra
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"E o caminho da felicidade ainda existe: é uma trilha estreita em meio à selva triste."
Eu vejo as pessoas perdoando coisas imperdoáveis so pq elas são sozinhas ou novas demais...
As vezes, elas n tem ning. Perdoam quem tem.
Sem condições de se protegerem, de se sustentarem ou fugirem para um lugar seguro a maioria das pessoas novas q vejo agem como "tendo q aceitar". E fugir acaba sendo perdoar e aceitar, o q parece muito bonito do ponto de vista moral cristão, mas não educam ninguém, principalmente quem foi perdoado a não abusar sexualmente de crianças, por exemplo. E a justiça, claramente morta na terra, está só, no céu, e "Deus vai fazer ele pagar" e todos nós não precisamos fazer mais nada(?). Não posso incitar a revolta nesse sistema perverso. Mas sei q não estou só.
Não adianta nem mesmo concordar com a crítica se não mudamos de atitudes no sentido d produzir proteção para quem precisa. Isso envolve falar e encarar assuntos difíceis que vão do sexo ao abuso, por exemplo. Recusamos todo santo dia a possibilidade d sermos heróinas/heróis, fascinados pela fantasia da capa vermelha ou da máscara de morcego. De achar d forma fabulosa q o bem e o mal estão separados e d q alguém de fora (e do alto) vai, magicamente, salvar a gente. A ideia de heroismo tem q passar por aquilo q precisa mudar no cotidiano e não pela anestesia. Por entender q tem figuras aparentemente boas como "o bom pai" q estupram adolescentes em seu "lar" ou "a boa tia" q agenciam a prostituição aliciando a própria filha ou a filha dos outros ainda criança para homens (mais) velhos. Eles não usam etiqueta dizendo como lavar para se tornarem novos! Vejo que, em muitos casos, essas pessoas seriam até denunciadas se o agressor não fosse tirado de casa e fosse incluído num acompanhamento mediador q o fizesse parar (e não acabasse com ele enquanto provedor da família). Mas isso ainda não vi acontecer. Se tem algo pior do q o abuso é morrer de fome.
Numa vida pautada pela ideia de felicidade e prazer, ninguém quer passar pelo q dói. Vejo crianças sendo abusadas e não faço nada (mais uma vez!) porque não vou levá-las pra casa? Se não pararmos para pensar o q fazer nesses casos, vamos continuar com essa noção simplista quanto a tomada d providência e achando mais fácil não fazer nada.
Instituições d acolhimento para ficar com esse público, "largando e esquecendo" as crianças lá dentro são o ideal? Não são! "Abrigo" não é lugar de criança! elas tem q estar sob as asas do tal amor e compaixão tão apregoado! Uma atenção específica, com sustento e com liberdade de ir e vir. O amor não deve estar numa relação sujeita ao profissionalismo de uma instituição. Deve-se estar lá em último caso.
[*Vale ressaltar que em instituições de acolhimento se tem todo tipo de público. ♡]
Outro debate que permeia esse é a visão que temos dessas pessoas que passaram pelo abuso, onde só as respeitamos se eles se portarem como vítimas indefesas quando, em qualquer realidade multiversa, podem ser também belas jovens de 1,80m de altura, mas ainda sim adolescentes q são aliciadas nos casos em questão, só q, pela vida sexual avançada são simplesmente culpadas.
Pergunto: o q vc faria se soubesse que alguém da sua família abusou de alguém menor de idade da sua família também?
Se vc n estiver pronto para saber, tampouco esses menores de idade estão prontos para falar.
"Eu durmo pronto pra guerra
E eu não era assim, (...)
E sei o que é mau pra mim
Fazer o que se é assim
Vida loka cabulosa
O cheiro é de pólvora
E eu prefiro rosas
E eu que...e eu que
Sempre quis com um lugar,
Gramado e limpo, assim, verde como o mar
Cercas brancas, uma seringueira com balança
Disbicando pipa, cercado de criança"
(Com a contribuição do amigo Rafa na sugestão da arte e na ideia e dos Racionais MCs na arte da música)

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Bonecas com Deficiência

Marca cria bonecas com deficiências físicas para promover a inclusão







Como ensinar crianças a aceitarem a tentarem entender deficiências físicas e marcas de nascença quando a maioria das bonecasbrinquedos e desenhos animados não mostra isso em seus personagens? Instigada por uma campanha na internet, a marca britânica Makies, que vende bonecas feitas em impressora 3D, anunciou uma série de acessórios como bengalas,aparelhos auditivosóculos e marcas, que podem ser adquiridos com a boneca ou separadamente.
Após o anúncio, a marca recebeu diversas solicitações de acessórios, como uma cadeira de rodas, o próximo item a ser lançado. A campanha #ToyLikeMe ganhou grande repercussão nas redes sociais, com mais e pais pedindo mais diversidade nos brinquedos e bonecas. Afinal, como a gente bem sabe, a diversidade das pessoas vai muito além do corpo branco e perfeito das Barbies.
Confira os acessórios criados:
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Todas as fotos © Makies


Fonte: Hypeness
http://www.hypeness.com.br/2015/05/marca-cria-bonecas-com-deficiencias-e-marcas-de-nascenca-para-promover-inclusao/

Rio de Janeiro receberá 8º Encontro de Cinema "Negro"

Cinema "Negro"



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http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/rio-de-janeiro-recebera-8o-encontro-de-cinema-negro"


Fonte: Por dentro da África

http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/rio-de-janeiro-recebera-8o-encontro-de-cinema-negro

sábado, 17 de janeiro de 2015

Globeleza: "Mulata (!!!!) tipo exportação"

" “Penso que a relação ‘Mulher negra e Carnaval’ precisa ser problematizada, pois para além de ser uma festa cultural do Brasil, o Carnaval é também uma festa comercial e a ‘mulata tipo exportação’ é mais um item a ser comercializado”, afirma Oliveira. "
"Não encaro concursos de Misses de forma positiva em nenhum contexto”
" O fato é que falta representatividade para as mulheres negras na televisão e, mesmo quando aparecem, são colocadas em posições inferiorizadas, sem paridade ou protagonismo."

Fonte: Revista Forum
http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/01/racismo-gente-ve-na-globo/


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Matéria na Íntegra:


Sempre que a vinheta carnavalesca da Globo é exibida na televisão, o Brasil reafirma sua herança racista e misógina. Ainda mais preocupante é que poucos parecem se incomodar com o racismo explícito
Por Jarid Arraes 
No Brasil, impera a ilusão de uma convivência racial harmoniosa, segundo a qual pessoas de diferentes cores e miscigenações conviveriam na mais perfeita paz, sem que suas características físicas jamais se tornassem alvo de discriminação. No entanto, esse discurso cai por terra facilmente: o racismo brasileiro está vivo e, de fato, é tão bem aceito na sociedade que questioná-lo soa como um ultraje. Um exemplo dessa realidade é a existência do Globeleza, quadro da Rede Globo que exibe mulheres negras – chamadas por eles de “mulatas” – no período do carnaval.
Não é difícil compreender onde mora o racismo do Globeleza: a Rede Globo seleciona somente mulheres negras para que representem a sexualidade do Carnaval, que, como sabemos, está relacionada ao sexo considerado “promíscuo”; ou seja, ano após ano, a mulher negra é associada a um objeto sexual descartável, que representa uma sexualidade compulsiva, sem que possua qualquer valor fora desse papel. Essa é uma mentalidade racista que existe desde os tempos de escravidão, quando mulheres negras escravizadas eram estupradas por homens brancos, que mantinham seus casamentos com mulheres brancas, mas usavam as negras de forma abusiva e violenta.
Sempre que a vinheta carnavalesca da Globo é exibida na televisão, o Brasil reafirma sua herança racista e misógina. Ainda mais preocupante é que poucos parecem se incomodar com o racismo explícito. É possível até ouvir posicionamentos moralistas, de pessoas que repudiam o quadro por seu conteúdo de nudez, mas dificilmente denunciarão a problemática racial e os prejuízos que a Globo vem causando às mulheres negras todos os anos.
As críticas feitas contra o Globeleza não são recentes. Tanto o movimento negro quanto o feminista já elaboraram teorias e protestos de longa data no constante esforço de eliminá-lo. Os estereótipos racistas e machistas, afinal, se repetem bastante. Toda a polêmica envolvendo o seriado Sexo e as Nêgas, de Miguel Falabella, é mais um exemplo do padrão racista da televisão brasileira, tão fortemente utilizado pela Rede Globo.
Eliane Oliveira, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e membro do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (NEIAB), é categórica em sua análise: o Globeleza e a série Sexo e as Nêgas repetem os mesmos papéis destinados às mulheres negras. “Uma permanência da relação com o sexual, com o exótico. É racismo e machismo misturado, me parece que não conseguem perceber nós negras para além da cama, um estigma colonial que não desaparece, que não é superado, os sinhôs e sinhás achando que a preta está ali para servir, a seu bel prazer”.

(Foto: Reprodução)
"Érika Moura, Nayara Justino e Valéria Valenssa: “Engana-se profundamente quem pensa que a posição de Globeleza só traz frutos positivos para a mulher escolhida” (Foto: Reprodução)"

Escolhida para a rejeição
Engana-se profundamente quem pensa que a posição de Globeleza só traz frutos positivos para a mulher escolhida. O caso de Nayara Justino, escolhida como Globeleza por voto popular pela programação da Globo, escancara a perversidade por trás desse quadro: Nayara foi eleita pelos telespectadores e foi coroada como musa do carnaval, mas logo passou a receber ataques e ofensas racistas, principalmente pela internet. O discurso repetido discriminava Nayara por ter a pele muito escura e não possuir traços faciais considerados delicados.
Por causa do racismo do público, a Rede Globo empurrou Nayara para a geladeira e fez de tudo para escondê-la, o que a levou a cair em depressão. Para 2015, a Globo elegeu uma nova “mulata”: a paulista Erika Moura, que tem a pele mais clara e a aparência física mais próxima do padrão negro que a emissora permite ser mostrado em sua telinha. “A Erika é linda e pelo que sei, a seleção foi feita dentro das escolas de samba. A Nayara também é linda e foi escolhida pelo voto popular. A meu ver, o problema está na padronização ou estereotipia da mulher negra aceitável para a tela da TV. Ou seja, tem negra que pode e negra que não pode. Alguém com os traços marcadamente negros, tom de pele mais escuro, lábios grossos e nariz redondo não passa pelo crivo racista do público brasileiro”, explica Oliveira.
Segundo Oliveira, tanto Erika quanto Nayara são mulheres negras e lindas, sem que uma seja mais ou menos bela que a outra – o problema é a tentativa da emissora de embranquecer a beleza negra para aproximá-la do padrão europeu. “Basta ver como anunciam a nova escolhida: ‘uma morena linda’”, exemplifica. Ela ainda explica que o padrão racial da Globo é o padrão racial dos brasileiros, que parecem não entender que 50% da população do país é negra. “A impressão que tenho é de que nós não existimos como telespectadores nem como consumidores, não precisamos nos ver representados, pois apenas o desejo, o gosto, o dinheiro do branco é que conta. Vivemos essa falácia de branqueamento há séculos e não conseguimos nos livrar desse ranço, o colorismo é a herança que parece não ter fim”, lamenta.
A situação é complexa e difícil, sobretudo quando colocamos na berlinda a saúde psicológica de mulheres como Nayara Justino. Em poucos meses, a mulher que foi aclamada e aplaudida pelo público pode se tornar o alvo de chacota do país, mas ao final ainda terá de agradecer pela oportunidade concedida. Essa é uma lógica cruel, mas naturalizada. No entanto, é fundamental não se deixar ludibriar, porque não existe lado positivo no racismo e na objetificação sexual. O espaço concedido, quando construído sobre preconceito racial, pode desmoronar muito rapidamente. Mas como resolver o problema? Como lutar contra a gigante midiática e a relação de dependência que a emissora impõe aos artistas negros?
“Penso que a relação ‘Mulher negra e Carnaval’ precisa ser problematizada, pois para além de ser uma festa cultural do Brasil, o Carnaval é também uma festa comercial e a ‘mulata tipo exportação’ é mais um item a ser comercializado”, afirma Oliveira. A mulata, nesse contexto, seria a personificação da exotificação e objetificação da mulher negra. “Amo as passistas, o samba no pé, o cuidado com o corpo e a dedicação à comunidade, mas questiono por que essas mulheres não têm o mesmo destaque midiático que têm as globais que ocupam os postos de destaque nos desfiles, por exemplo”, contesta.
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Eliane Oliveira, mestre em Ciências Sociais, defende o fim do quadro “Globeleza”: “É racismo e machismo misturado” (Foto: Arquivo pessoal)
E as brancas?
Algumas pessoas pontuam que, apesar das duras críticas ao Globeleza, concursos com mulheres brancas, como o Miss Universo, não sofrem os mesmos protestos. Mas isso não passa de um engano, baseado na mais pura ignorância. O movimento feminista aponta, sim, o sexismo existente em concursos de beleza voltados para mulheres brancas. De fato, o Globeleza parece ser a única disputa entre negras que recebe algum destaque, já que em todas as outras competições femininas as mulheres brancas são absoluta maioria. Até mesmo na Bahia, o estado brasileiro com a maior população negra, já houve polêmicas devido à ausência de candidatas negras na seleção para o Miss Brasil.
É importante lembrar que diversas feministas negras, tais como Eliane Oliveira, não enxergam a inclusão das mulheres negras como uma solução definitiva para o problema. “Não encaro concursos de Misses de forma positiva em nenhum contexto”, salienta. “Acho esse tipo de coisa uma aberração. Qual a explicação racional para mulheres disputarem entre si quem é mais bonita? Meu feminismo não me deixa enxergar lógica numa situação em que mulheres batalhem entre si por um posto que é totalmente ilusório; beleza é subjetiva, o gosto é socialmente construído.”
Mas a exclusão das mulheres negras de concursos como o Miss Brasil tem ramificações e consequências; são resultados que explicam o Globeleza, já que essa é uma das únicas oportunidades para que as mulheres negras possam ser avaliadas como belas, ainda que de forma machista e distorcida. “O Globeleza, na minha opinião, é algo que já deveria ter desaparecido da televisão há muito tempo. Mas, ao invés disso, por termos no Brasil uma mídia seletiva e uma sociedade racista, esse é um dos poucos espaços de destaque que a mulher negra ainda consegue disputar na TV. Entendo que muitas moças almejem tal posto; afinal, quais as outras possibilidades que elas possuem na TV, ser atriz e fazer papeis subalternos?”, analisa. O fato é que falta representatividade para as mulheres negras na televisão e, mesmo quando aparecem, são colocadas em posições inferiorizadas, sem paridade ou protagonismo.
O caminho rumo à paridade é longo, mas algumas estratégias simples, porém incisivas, são sugeridas pela intelectual, que acredita que o Globeleza deve acabar. “Por qual motivo a Globo tem que ter uma musa do carnaval? Penso que quem deve ter musa são as agremiações que trabalham o ano todo para isso, e que, provavelmente, devem ter critérios de escolha que não apenas a beleza física”, considera. “O papel da emissora se resumiria a dar destaque às moças, mas por que será que não é assim? Podem me dizer que a escolhida para tal posto também acaba se beneficiando, mas acho que se não houver outros espaços para onde ela possa crescer, do estrelato para o anonimato é uma queda vertiginosa. Basta ver o que aconteceu com a belíssima Valéria Valenssa: depois de mais de dez anos como Globeleza, desapareceu da mídia e, pelo que li, entrou em depressão por ter perdido o posto de forma abrupta. Não era atriz, vivia do título, quando perdeu o posto teve que lidar com a distância dos holofotes. Sinceramente, não vejo nada de benéfico nessa situação.”
O carnaval está chegando; a Globeleza samba na televisão brasileira e mais uma vez aquelas que lutam contra o racismo recebem a hostilidade dos que se recusam a questionar os padrões. No Brasil, infelizmente o racismo machista ainda é considerado entretenimento. Na tela da TV, no meio desse povo, racismo a gente vê na Globo.
(Foto de capa: Reprodução/TV Globo)

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Fonte: AraGeek