o sol no cafofo!
Rodo cotidiano, Rabiscos voadores...
As anotações mais urgentes e mais tortas pelo tempo!
"Eu sempre espero uma coisa nova de mim, eu sou um frisson de espera - algo está sempre vindo de mim ou fora de mim." C.
"E eu tenho a minha verdade Fruto de tanta maldade que já conheci Me deixa caminhar a minha vida Livremente O que desejo é pouco Pois não duro eternamente Nada poderá me afastar do que eu sou Amor, é o meu ambiente Nada poderá me afastar do que eu sou Me deixa, por favor Do bom samba sou escravo Seu fascínio me apertou Traçou-me este destino E meu sonho menino se concretizou Deixe-me agora sonhar Seguir sem pensar numa desilusão Que o amor simplesmente Se faça presente no meu coração Eu tenho E eu tenho a minha verdade Fruto de tanta maldade que já conheci Me deixa caminhar a minha vida Livremente O que desejo é pouco Pois não duro eternamente E nada poderá me afastar do que eu sou Amor é o meu ambiente Nada poderá me afastar do que eu sou Me deixa, por favor"
Minha verdade - Ivone Lara
Su: me toca a letra.
sábado, 18 de janeiro de 2020
Você me diz para ficar quieta porque minhas opiniões me deixam menos bonita, mas não fui feita com um incêndio na barriga para que pudessem me apagar. Não fui feita com leveza na língua para que fosse fácil de engolir. Fui feita pesada, metade lâmina, metade seda. Difícil de esquecer e não tão fácil de entender.
Eu via q para algumas pessoas era uma negociação constante com o mundo ser quem se é e não estar inteiramente sozinha. Eu explico a piada, mas não rio na hora certa sem pensar se machuca ou se tem graça. Eu perco a corrida. Porque meu jeito reflete algo que passei e que não acho graca. Eu quero uma multidão comigo, mas muitas vezes não concordo e pra quem ama o espelho eu sou feia porque eu sou só uma. Às vezes você entende a diferença entré gostar de estar só é ser inteiramente sozinha. Não mais que de repente, todo dia, algumas pessoas vão continuar na sua vida.
S.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
A pessoa trans faz perguntar: o que é o amor?
Por que é mais importante o que tem embaixo da roupa ou o gen do que o amor por quem se é?
Eu sou meu dedo, meu rosto, meu pé tb. Mesmo sem um braço, eu sou meu corpo inteiro.
S.
Como vc tá?
Tem cuidado que ninguém vai te dar.
O melhor pode doer
O pior, não te tirar do lugar
Entra e sai
É a vida do seu lugar
Algumas coisas se fazem,
Outras se desfaz
Não necessariamente em paz
Mas com calma
A fome e a vontade voltam.
Como o fundo do mar
Como o espaço
Os dois são profundos
Na terra, um pedaço do caminho
A pele e um pensamento
Nos mantém unidos.
Compartilhar verdade seria
Ao mesmo tempo
Correr pra fora e pra dentro.
S.
O que você faz pelo mundo?
Medito, oro e durmo.
Quando você tem fome?
Você só medita e ora
Ou então come?
Comer nao é encher
Só matar a vontade
Que tira da vida o gosto
Até o próximo vazio
Comer não é gosto ou não gosto
É ter, ser inteiro, um meio
De ser todo mundo
Ter na boca o passado
Com futuro
É comida da terra
Comer com jeito
Uma fome fraternal
Um gozo universal
Antes d pedir
Antes d prometer
Antes de discutir
Quem criou
Quem vai julgar
Encher todas as barrigas.
Meditar antes,
Orar depois
Ação direta
É o feijão com arroz.
(Ação vale mais q mil palavras. Não só ação. Mas ação tb. No jogo, cheio de ação, os dois times elevaram o pensamento. Mas como são humanos, um ainda perde e o outro ainda ganha. O q ganharam ambos foi o pensamento. Pensação. Pra tornar importante nossas palavras e nossa ação.)
S.
domingo, 28 de julho de 2019
Do lado do meu trabalho
Tem um quintal de flor
aqui s'labuta com medo
De quem foi e não voltou
A beleza do sossego
Eu achei que chegava
Ih quem ficou ficou com medo
'té da gaveta de casa
Não morra antes da hora
Descanse hoje em paz
A todos até volta
Coisa q morto não faz.
"Quem fala que eu sou esquisita hermética É porque não dou sopa estou sempre elétrica Nada que se aproxima nada me é estranho Fulano sicrano beltrano Seja pedra seja planta seja bicho seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta Eu ligo a tomada abro a janela escancaro a porta Experimento invento tudo nunca jamais me iludo Quero crer no que vem por aí beco escuro Me iludo passado presente futuro urro Reviro balanço reviro na palma da mão o dado Futuro presente passado Tudo sentir total É chave de ouro do meu jogo É fósforo que acende o fogo Da minha mais alta razão E na seqüência de diferentes naipes Quem fala de mim tem paixão." (Olho de Lince - Maria Bethânia em "Caderno de Poesia")
Fuso horário
Meu tempo desatado
água viva
que ilumina
Minhas viagens,
Meus tratados
Minhas noites
Na cabana
Disfarçadas de saciedade
Tramam a fuga das cidades
A energia vem da fonte
Da fonte eu vim
Num pé que deu aqui
Noutro q vai da lá
Eu vou voltar.
Relógio autoritário
Trabalho
Lá se matam
atrapalho
me roubam as noites
Dos meus dias
Das minhas amizades
Das minhas coisas e gentes
Plantas e bichos
Lugares e nichos
Fluxo do meu rio
De libélulas azuladas
Nas rochas empretadas
Só quem se mudou
Sabe no que foi dar
Eu podia ser qualquer coisa, garota
Mas meu amor
Dorme mais
Aonde não acho paz.
É um nó dado por são pedro
E arrochado por são cosme e damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
É um nó dado por são pedro
E arrochado por são cosme e damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
Quer ver o bom?
É o aguado quando leva açúcar
É ter a cuca, açucarado num beijo roubado
É um pecado confessado, compadre sereno
Levar sereno no terreiro bem enluarado
É pinicado do chuvisco no chão, pinicando
Ficar bestando com o inverno bem arrelampado
É o recado do cabocla num beijo mandando
"tá namorando a cabocla do recado"
É um nó dado por são pedro
E arrochado por são cosme e damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
Quer ver desejo?
É o desejo tando desejando
A lua olhando esse amor na brecha do telhado
É rodeado do peru peruando a perua
É canarim, é galeguim, é cantando o canário
Zé do rosário bolerando com dona isabel
Dona isabel embolerando com zé do rosário
Imaginário de paixão voraz e proibida
Escapulida, proibida pro imaginário
Quer ver cenário?
É o vermelho da aurodidade
É a claridade amarelada do amanhecer
É ver crescer um aguaceiro pelo rio abaixo
É ver um cacho de banana amadurecer
Anoitecer vendo o gelo do branco da lua
A pele nua com a lua a resplandecer
É ver nascer um desejo com a invernia
É a harmonia que o inverno faz nascer
(miolo, miolo, miolo do vulcão...)
Quer ver desejo?
É o desejo tando desejando
A lua olhando esse amor na brecha do telhado
É rodeado do peru peruando a perua
É canarim, é galeguim, é cantando o canário
Zé do rosário bolerando com dona isabel
Dona isabel embolerando com zé do rosário
Imaginário de paixão voraz e proibida
Escapulida, proibida pro imaginário
Quer ver cenário?
É o vermelho da aurodidade
É a claridade amarelada do amanhecer
É ver crescer um aguaceiro pelo rio abaixo
É ver um cacho de banana amadurecer
Anoitecer vendo o gelo do branco da lua
A pele nua com a lua a resplandecer
É ver nascer um desejo com a invernia
É a harmonia que o inverno faz nascer
Fonte:
https://m.letras.mus.br/jessier-quirino/826919/ ------
Ter o fim bem no meio
Nenhuma rima em or
Um começo que não veio
Nossa história de amor
Seja meu versejar
Cantar como quem resiste
Resistir como quem deseja
Meu versejar seja
Sorriso que te visite
A brisa que te beija
E que te festeja
Não
Tristeza não
Corre, anda, rasteja
Peleja sim, coração
Em busca da beleza.
Composição: Itamar Assumpção e Alice Ruiz
Interpretação de Itamar e Alzira E
Vídeo no Facebook:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=744141262437296&id=504342239750534
Fonte: Mundo em música
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Considero música um presente. Mesmo não vindo do compositor. Do João D.. Rs
Onde ainda não fomos é lugar para dois
Dá para você morrer só um pouquinho
Pequenas horas que salvam
O amor é dos espertos
No mundo eu só vim pra querer, não sou mesmo zen
Dá para a gente crescer no mesmo mistério
O que há de incrível no amor
Que eu ainda insisto
Onde ainda não fomos é lugar para dois
Dá para você morrer só um pouquinho
Pequenas horas que salvam
O amor é dos espertos
No mundo eu só vim pra querer, não sou mesmo zen
Dá para a gente crescer no mesmo mistério
O que há de incrível no amor
Que eu ainda insisto
E toda noite eu arranco o meu coração
De manhã ele volta a crescer
E toda noite eu arranco o meu coração
De manhã ele volta a crescer
E toda noite eu arranco o meu coração
De manhã ele volta a crescer
E toda noite eu arranco o meu coração
De manhã ele volta a crescer
E toda noite eu arranco o meu coração
De manhã ele volta a crescer
E toda noite eu arranco o meu coração
De manhã ele volta
(Parte 1)
Se é amor que você quer:
Recebe!
Me bebe, sou drink que quiser
Mistura de montila com guaraná
Eu gosto de dança de par
Quando as coxas se encostam
Seio no peito, confronto
Olho no olho, encontro
Sua boca que silencia a minha...
Não é reza! É anistia!
O pecado dos nossos corpos misturados
É como se você dissesse:
"Dá um bocado?"
E a gente divide culpa e santidade
Teus segredos guardo em meus beijos, cumplicidade
E a gente se mastiga
Você me excita.
Brinca indiferente...
Como se não de repente
E se alguém descobre da gente...
Como faz?
Todos os outros vão saber que te amei mais
Somos mistura de vinhos
É seco, suave, rosé
É tinto!
Lembra você?
Sorrindo, dizendo:
"Mariana, não vai dar certo"
(Parte 2)
Ela escreve.
Eu escravo.
Ela tem métrica
Eu só faço em verso
porque acho bonito.
Ela deve conhecer uns cinco países.
Eu conheço o bar com a cerveja mais barata do bairro,
e cá pra nós,
já nem está tão barata.
Ela faculdade.
Eu facultativo.
Ela fala três idiomas.
Eu acho que nem português sei falar direito,
porque às vezes o dono do bar não entende o que eu falo.
Ela escreve no quarto.
Eu depois do quarto copo,
escrevo no guardanapo,
usando o balcão do bar de apoio.
Ela breve.
Eu bravo.
Ela clama
Eu reclamo
Pra ela amor acaba
pra mim amor é escambo.
Ela diz que caibo no seu canto.
Eu de canto, canto. Me aproximo aos tantos e no entanto
Ela tem pressa de ser feliz
Eu tenho um peito que é presa fácil.
Ela se lembra.
Eu silêncio.
Ela se queixa
Eu me encaixo
Ela excede
Eu escasso
Ela merece
Eu marasmo.
Ela tem modos,
Eu tenho medos.
Ela tão tarde
Eu tão cedo.
Ela já sabe.
Eu já disse:
Ela escreve
Eu escravo.
Ela com suas palavras
Eu com as minhas.
Ela só não sabe que
Eu sou quase seu inverso,
e mesmo controverso, confesso:
Eu gosto mesmo é quando a gente
U N I V E R S O S
Lucas Afonso
Ao contrário, eu acho
Aposto com você o dobro
Escolhe o jogo
Que eu boto minhas cartas na mesa
É loucura, eu sei
Mas...aceita!
O quão sóbrio você é...?
Diz que não me quer
Mas quando te procuro, me faz mulher
Gosto de você por cima
Por baixo
Aos lados
Te sigo com os olhos, te caço!
Você de canto, canta
Mente dizendo não caber
Aqui?
Se o problema é espaço
Pego tudo que em mim já foi ocupado
E me desfaço!
Não me contento mais em só caber no seu abraço
Hoje entendo tanta briga
Tanto valor cobrado
Quero com você dividir passos...
E se tem outro, outra, eles
Não importa
Sou só sua, todas as vezes que fecham-se as portas
Você não acredita em mim
Diz que eu falo mentiras
Enquanto eu grito:
"Me tira daqui!"
Estou disposta a mapeamento.
Finca sua bandeira no meu lar
Diz que você me descobriu
Faça minhas leis
Mas pela última vez
Se o seu navio não ancorar
Ainda que qualquer dia você faça as malas decido a voltar...
Vai ter sido meu coração
Quem decidiu ocupar outro lugar.
“Você me diz para ficar quieta porque minhas opiniões me deixam menos bonita, mas não fui feita com um incêndio na barriga para que pudessem me apagar. Não fui feita com leveza na língua para que fosse fácil de engolir. Fui feita pesada, metade lâmina, metade seda. Difícil de esquecer e não tão fácil de entender.” - rupikaur_
"As pessoas não choram porque são fracas , mas sim porque tem sido fortes há muito tempo. (?)
"Resta a última gota ou algo mais.. para desatar o nó de nós E tudo que é de deixar levar no balanço da brisa Basta do último gole da taça que chora, da gota que pinga, do adeus, da demora, do olhar, da esquina, desse apartamento O afago das tuas cordas me abre o peito, eu quero viver E as minhas arestas se cruzam no ponto de você."
Era e será
Como as vísceras que se acomodam
Enquanto a gente passa,
Como a terra e o ar
Vão virando nós.
Lento e rápida.
Como o sangue acha de correr
Indo e voltando sem parar.
Não tem nenhum momento em que a bomba para?
Ou a bomba não funciona
Ou a explosão está dada.
Vão se achar
Nesse ou nesse mundo
A lua é ilha cara.
O sol não é pra todos.
O infinito é querer saber demais.
Vamos por onde tem chão.
Não me agito de voar
Se não for longe e sempre.
Mãos vazias
não só por impulso
Menos por acaso
Pouco por sorte
Nem sempre nos planos
Como der
Como vai dar
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
.
5-4-1931
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).
Quando o mar
Quando o mar tem mais segredo
Não é quando ele se agita
Nem é quando é tempestade
Nem é quando é ventania
Quando o mar tem mais segredo
É quando é calmaria
Quando o amor
Quando o amor tem mais perigo
Não é quando ele se arrisca
Nem é quando ele se ausenta
Nem quando eu me desespero
Quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero.
Alguém sortudo demais fez esse registro bom demais!
______________________________
"Bethânia e as Palavras" no Parque das Ruínas / RJ - 06.11.2010 (Trecho)
.
Encontro ou Amor (Fausto Fawcet)
Caprichos e Relatos (Paulo Leminski)
Trechos Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa)
Os Vínculos Timorenses (Ruy Cinatti)
Quero ser Tambor (José Craveirinha)
.
.
Encontro ou amor (Fausto Fawcett)
Vivo clandestina e não é mole essa vida clandestina
Mas posso me orgulhar da qualidade da minha pele
E da temperatura do meu beijo,
eu quero fazer com você um pacto de delicadeza.
Eu quero me sentir Alteza,
para te ceder todos os músculos
Será arbusto dos seus beijos
Vamos sair esburacando a madrugada
trocando beijos e tragadas
A lua é uma lantejoula da Nasa
que brilha leitosa no meu vestido estrelado.
.
Caprichos e relatos (Paulo Leminski )
um deus também é o vento
só se vê nos seus efeitos
árvores em pânico
bandeiras
água trêmula
navios a zarpar
……………
a este deus
que levanta a poeira dos caminhos
…………….
consagro este suspiro
nele cresça
até virar vendaval
.
Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa)
Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de
Diadorim – de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade.
Me a mim, foi de repente, que aquilo se esclareceu: falei comigo.
Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei – na hora.
Melhor alembro.
…………
O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em
mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente –
“Diadorim, meu amor...” Como era que eu podia dizer aquilo?
………
E como é que o amor desponta.
…..
Coração cresce de todo lado. Coração vige feito
riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas.
Coração mistura amores. Tudo cabe.
………
E eu – como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu
criei? Minha vida o diga. Se amor ?
... Diadorim tomou conta de mim.
………….
E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei – daí então acreditei.
……
Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus
mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava
com meu corpo aquele Diadorim-que não era de verdade. Não
era?
………………
Diadorim deixou de ser nome, virou sentimento meu
……..
Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava.
……….
Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as
surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.
……..
Tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um aceso,
de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às
loucas, gostasse de Diadorim,
……
no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de
empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em
Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas
demais vezes, sempre.
……
Abracei
Diadorim, como as asas de todos os pássaros
…….
Só se pode viver
perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a
gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um
descanso na loucura.
…….
amor é a gente querendo achar o que é da gente.
.
Os Vínculos Timorenses (Ruy Cinatti)
…………
Senhor da terra, das águas,
do ar e dos milheirais.
Senhor Mãe e Senhor Pai,
dai-me um desejo profundo.
Que eu seja senhor de mim!
………………
.
Quero ser tambor (José Craveirinha)
Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
Só tambor gritando na noite quente dos trópicos.
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Eu Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!
.
.
.
Roberto, muito e muito obrigado!
Fonte: Maria Bathânica Re(verso)
http://mariabethaniareverso.blogspot.com.br/2010/11/blog-post.html
É música, mas não cantada . É recitada e "literada". Dá pra sentir o som por todos os cantos. É oração, é reza, é flagra. É ganhar de novo um amigo Rosa.
É mais um jeito, um efeito de ser do que de conseguir compartilhar com as pessoas. <3
"Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa)
Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de
Diadorim – de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade.
Me a mim, foi de repente, que aquilo se esclareceu: falei comigo.
Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei – na hora.
Melhor alembro.
…………
O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em
mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente –
“Diadorim, meu amor...” Como era que eu podia dizer aquilo?
………
E como é que o amor desponta.
…..
Coração cresce de todo lado. Coração vige feito
riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas.
Coração mistura amores. Tudo cabe.
………
E eu – como é que posso explicar ao senhor o poder de amor que eu
criei?Minha vida o diga. Se amor ?
... Diadorim tomou conta de mim.
………….
E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado.Amor que amei – daí então acreditei.
……
Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus
mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava
com meu corpo aquele Diadorim-que não era de verdade. Não
era?
………………
Diadorim deixou de ser nome, virou sentimento meu
……..
Aquilo me transformava, me fazia crescer dum modo, que doía e prazia. Aquela hora, eu pudesse morrer, não me importava.
……….
Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as
surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.
……..
Tudo turbulindo. Esperei o que vinha dele. De um aceso,
de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às
loucas, gostasse de Diadorim,
……
no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de
empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em
Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas
demais vezes, sempre.
……
Abracei
Diadorim, como as asas de todos os pássaros
DIadorim é minha neblina.
…….
Só se pode viver
perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a
gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um
"Mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar
Que o homem é pra [amar] e o coração pra gente dar
...
Esses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem
Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua
A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
E pela dor eu descobri o poder da alegria
E a certeza de que tenho coisas novas
Coisas novas pra dizer"