[Valores da Sociedade
As polêmicas atuais expressam
diversos modos de lidar com a questão da violência das ruas. Muitas vezes o que
mais vigora são mais práticas violentas e por fora da “justiça” do
Estado, cometida por este mesmo ou pelo “cidadão” comum. Diante disso, fico com a fala de Zizek:
“Sim, de
certa forma, é preciso desfetichizar a violência. Esse horror à violência hoje
é parte dessa ideologia liberal da tolerância. Você começa a criticar a
violência e no final você advoga a tortura.” (http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/722/entrevistados/)
Tanto o modelo
repressor do Estado não dá conta da demanda quanto acaba por ser reforçada sua
“necessidade” quando a população não se sente segura e não vê saída a não ser
clamar pelas forças policiais. Quem acaba por sofrer efeitos desse medo
generalizado que a mídia (em última instância sempre ligada a figuras do governo) ajuda a instaurar é justamente a população pobre,
negra, jovem e, principalmente, moradora das ruas. 
Não parece haver nenhuma
preocupação a ponto de se questionar como esses jovens vão parar nas ruas ou
como são os modelos de assistência a casos de crianças abandonadas. Mais
difícil ainda é ver essa mesma população que clama pelos modos repressores de
tentar resolver os problemas da violência, se perguntando “o que temos todos a
ver com isso? Que outras intervenções são possíveis?” (análise da implicação).
Será possível: promover essa reflexão junto a população; analisar as práticas
de assistência do Estado; desconstruir a ideia de pessoas que já nasceram para
o mal e ter nos jovens que praticam delitos a evidencia? Conseguiremos
esclarecer que além da desigualdade social podemos argumentar que toda
população de rua, que todo pobre, não tem o “dom” de cometer delitos visto que
pessoas de classes abastadas usufruem de milhões mesmo tendo bons salários seja
fazendo parte de corrupções no próprio modelo de Estado que temos, seja fazendo
parte do cotidiano de outras organizações?
Vemos que o que mais choca nesses
casos do assalto de rua é a violência que nos infringe diretamente. Parece uma
violência menor roubar milhões de um governo, pois os efeitos não são claros e
nem imediatos, ante a nossos olhos. Não importa quantas denúncias sejam feitas
dos grandes bancos que fizeram lavagem de dinheiro para o comércio ilegal de
drogas. Essas entidades são tão grandes quanto abstratas e fica mais fácil
acusar os “aviõezinhos de rua” que fazem a entrega da droga do que quem é a fonte ou a financia.
Assim, o verdadeiro debate da
assistência prestada pelo Estado (seja jurídica ou social) e da reação a todo e
qualquer tipo de violência (a do rico e a do pobre, tanto faz) fica vedado. A
crítica ao Estado não é feita por completo quando se vê todos os problemas
personificados numa classe. Classe esta que é a única a ocupar as prisões e
isso também não é analisado e nem serve como evidencia ou efeito de nada: nem
de quem não está sendo preso ou de quem está sendo preso demais por pouca coisa
para fingir que justiça é feita. Esse senso comum, construído pelo Estado, pela
mídia e pelo não desenvolvimento de espaços de reflexão coletivos, prefere apoiar a
violência da reação imediata feita com as próprias mãos e entender qualquer
debate que negue isso como a “defesa do bandido”. Ex: Sheherazade
Fala, repercussão, resposta da She-Ra: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2014/02/07/interna_brasil,411704/sheherazade-se-defende-apos-declaracoes-polemicas-sou-do-lado-do-bem.shtml 
Diante deste cenário, parece
extremamente desinteressante se preocupar com medidas protetivas para crianças
abandonadas, uma vez que estas são quase totalmente desconhecidas (as medidas e
as crianças, sem nenhum glamour para a sociedade do espetáculo). Quando o
debate se volta muito para a diminuição da maioridade penal conseguimos avaliar
como muitos enxergam naquilo um benefício imediato e podemos continuar lidando
com os erros de análise propostos acima. Antes de achar inválido o debate, me
apoio totalmente na reflexão de Herbert de Souza para resgatar o humano em nós:
“Quando uma sociedade deixa matar as
crianças é porque começou seu suicídio como sociedade. Quando não as ama é
porque deixou de se reconhecer como humanidade. (...) Se não vejo na criança,
uma criança,é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou de
tudo o que foi tirado.” Betinho
Parece extremamente desinteressante,
inclusive, falar de abuso sexual dessas crianças, uma vez que se trata de
assunto que ninguém quer falar, é difícil colocar em palavras ou não se tem a
menor perspectiva do que fazer com os envolvidos na situação, principalmente se
forem da família da vitima. E o mais comum é que seja. Que funcionamento é esse que prefere evitar a dor e acaba por
fazer com que nosso silencio permita a repetição dela? É fato que temos que nos
aproximar do horror para combatê-lo. Falar sobre isso é uma forma também de ver
que resistências são possíveis e não mais termos que fingir que a dor é
inexistente. É reconhecer na falha dos modelos de acolhimento dessas vitimas e
das leis para esses casos, a possibilidade de fazer sempre diferente na próxima
ao invés de ser parte de uma história arruinada.
Como fazer o marketing de um trabalho como esse, considerado “pesado”?
Será que terei que partir do mesmo
mote de projetos sociais famosos que tem financiamento garantido e prometer
salvar as pessoas da vida do tráfico ou da pobreza? O que acaba por ser um
reforço dos mesmos princípios de criminalização da pobreza como forma de “superá-la”.
Até que ponto serve? Terá um próximo passo, o de fazer essa reflexão da
descriminalização ou ficamos só no apelo marqueteiro útil?]
Parte do meu projeto de mestrado para estudar casos de abuso sexual em abrigo.
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