Psicologia 50 anos: uma profissão de muitos tempos
Psic. Dra. Vera Lúcia Pasini
Conselheira Presidente
A psicologia enquanto profissão no Brasil:
• Primeiro curso de psicologia, no Brasil, em 1958
- Universidade de São Paulo;
• Profissão regulamentada em 1962 -Lei 4119
– proximidade com o golpe militar em 1964;
– intensa repressão política;
– “Milagre aconômico” -regime militar obteve sucesso no plano macro econômico (taxas de crescimento da
ordem de mais de 10% ao ano (1968-1973).
• Classes média e alta da população experimentaram processos de subjetivação, típicos das sociedades industriais modernas:
– alta valorização da interioridade psicológica;
– Fortalecimento do projeto individualizante e psicologizante da família nuclear (Velho, 1981; Costa,
1984; Vaitsman, 1994; Coimbra,1995).
– Transformaram-se em ávidas consumidoras dos serviços psicológicos prestados pelos profissionais
psicólogos.Autoritarismo militar
• criador das condições políticoeconômicas que “desestruturaram o núcleo da família
burguesa e levaram seus membros a redefinirem suas “identidades privadas”
(Costa, 1984, p. 137), que se modelaram dentro dos parâmetros hedonistas de
valorização do corpo e do psiquismo, típicos das sociedades de consumo desenvolvidas e
democráticas.• sobrevalorização da intimidade psicológica, realçando a importância social dos
profissionais “psi”;
• Inflação do campo do psicológico;
• Psicologia ascende como atividade liberal, bastante procurada pela classe média
urbana no Brasil entre as décadas de 1960 a 1990 (Vaitsman, 1994);
Segunda metade da década de 70:
• encerramento do ciclo do “milagre econômico”;
• elevações do preço do petróleo em 1973 e 1979 produzem o enfraquecimento do regime militar e dos benefícios aferidos pela classe média nesse período;
Recessão econômica:
• impôs aos setores médios e altos da população alterações profundas em seu
modo de vida e subjetivação;
• agravamento vital das condições de sobrevivência das classes populares;
• emergência vigorosa dos movimentos sociais no País entre 1975 a 1985 (Comunidades Eclesiais de Base, associações de bairro, grupos estudantis, grupos sindicais, movimentos de mulheres)
Movimentos sociais
• Trouxeram novos discursos e práticas de afirmação de outros modos de ser e de viver;
• ampliação da concepção do que é o político - passou a ser problematizado no cotidiano, nas relações entre os gêneros, entre as diferentes faixas etárias, entre as raças, na relação entre os doentes e os
especialistas;Movimentos sociais
• “politização do social, do cultural e, mesmo, do pessoal” (Santos, 1997, p. 263);
• Rompimento com a oposição até então instituída entre os domínios público e
privado;
• redemocratização da vida política brasileira (1985)
Efeitos na Psicologia:
• dimensão éticopolítica das práticas “psi” começa a ser evidenciada;
• a prática liberal da psicoterapia começou a viver sua recessão de demanda;
• grande aumento de novos cursos de Psicologia no País;
• incremento de variadas práticas de trabalho com a subjetividade alternativas em relação aos tratamentos psicoterapêuticos oficiais.
• Processo de mudanças no âmbito da formação em Psicologia promovido por um conjunto complexo e heterogêneo de acontecimentos contingentes.
Efeitos na Psicologia:
• instada a responder a essa nova conjuntura:
• Na década de 80 - Psicólogos, em crescentes contingentes, passaram a atender clientelas oriundas das classes populares, pela ação da psicologia social comunitária, pelo movimento de saúde mental, mobilizando o início efetivo da desconstrução da concepção tradicional de clínica;
• dimensão social exigiu alguma forma de escuta, abalando os conteúdos teóricos e técnicos pretensamente universalizantes, mas de fato produzidos a partir de um modo de subjetivação específico;
• Crítica ao consumo de conhecimento elaborado no exterior, descontextualizado da realidade brasileira.
História recente da Psicologia
brasileira
• Outubro de 2000: Conselho Federal de
Psicologia organiza em SP a 1ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia:
– 1.500 trabalhos em diferentes áreas e temas: saúde mental, violência, terceira idade, portadores de
deficiência, drogas, prostituição, mundo do trabalho, cidadania, trabalho em instituições, entre outros;
– Mostram o novo rosto da Psicologia no Brasil: um rosto brasileiro, interdisciplinar e transdisciplinar, contemporâneo e inventivo (Ferreira Neto, 2010)
• Subjetividade: construção histórica, atravessada pela vida social, e demandando uma abordagem que vai
além da visão disciplinar de uma psicologia que pensa seu objeto como pura interioridade, dissociado da
história.
• A subjetividade deve ser pensada em suas articulações com a vida social;
• Trabalho do psicólogo não pode mais se reduzir a uma prática clínica centrada no Eu como realidade
inquestionável (noção de indivíduo);
• Prática clínica deve estar inelutavelmente associada a uma prática política.
Anos 1970 a 2000
• Transição: formação de profissionais liberais para atuarem na área clínica, junto às classes média e alta da população, para uma modalidade mais plural de atenção em um trabalho mais vinculado ao serviço público, a organizações não governamentais, ou a projetos sociais, voltados, para as classes populares (Ferreira Neto, 2010)
Novos perigos:
• Submissão cada vez maior da formação às normas de mercado, com a incorporação da categoria empresarial da “flexibilidade” da formação e atuação profissional para todo tipo de demanda “uma atuação que não toma a demanda como objeto de trabalho crítico, presta um desserviço
à psicologia enquanto profissão” (Ferreira Neto, 2004, p.139)
Desafios
• Mantendo essa conexão já estabelecida com a dimensão sociopolítica e com a realidade do povo brasileiro;
• atenção sobre quais novos problemas se colocam em nossa atualidade;
• psicólogo deve estar preparado para atender além das “demandas artificiais” (demanda escolar, grupos específicos para cada queixa) assumindo plenamente as conseqüências eticopolíticas de sua atuação;
• “Resistir” a tendência de as instituições de formação profissional sejam tomadas pelo tecnicismo, que visa atender a um imediatismo mercadológico e impossibilita ao profissional “articular o como-fazer ao porquê-fazer” (Ferreira Neto, 2010, p.139)
• Não restringir o estudo da psicologia dentro de um enfoque exclusivamente disciplinar;
• Para ser capaz de apreender o sujeito brasileiro contemporâneo, a psicologia precisa se manter
permeável a outras interlocuções fora de seu campo de saber/fazer;
• Realizar Interlocuções multidisciplinares e mesmo extra-disciplinares como as Artes, as
mídias, as novas tecnologias, as produções culturais em geral.
2012: 50 anos da Psicologia no Brasil
• II Mostra de Práticas da Psicologia – São PauloReferências:
Coimbra, C. (1995). Guardiões da ordem: uma viagem pelas práticas psi no Brasil do “milagre”. Rio de Janeiro: Oficina do Autor.
Costa, J. F. (1984). Violência e psicanálise. Rio de Janeiro: Graal.Ferreira Neto, J.L. (2010). Uma genealogia da formação do psicólogo brasileiro. Memorandum, 18,130-142.
Santos, B. S. (1997). Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade (3ª ed.). São Paulo: Cortez.Vaitsman, J. (1994). Flexíveis e plurais: identidade, casamento e família em circunstâncias pós-modernas. Rio de Janeiro: Rocco.
Velho, G. (1981). Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar.
Fonte: CRP RS - Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul
http://www.unisinos.br/blogs/psicologia/files/2011/09/PalestraCRP.pdf
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