sábado, 20 de janeiro de 2018

Questão indígena: "Nossa Identidade não é sua Fantasia"

"Você pode apreciar/gostar/admirar outras culturas sem tentar usá-las como fantasias ou torná-las vendáveis para A SUA GENTE. Se você não foi convidado pelo coletivo a usar e a fazer parte de tal ritual, vamos ser justos e conhecer os limites."

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""Nossa Identidade não é sua Fantasia"

De forma bem respeitosa, irei dizer por que me sentir constrangida na minha primeira experiência no carnaval ano passado. Seguindo blocos na rua de BH fui varias vezes indagada, com perguntas carregadas de estereotipo e de modismo,sobre as minhas pinturas a minha identidade,que não é só minha é do meu povo,que naquele momento ficava invisível e se perdia ao meio a outras pessoas que usava nossas pinturas,cocares como fantasia de carnaval. 

• Usar vestimentas que carregam significados profundos do que simplesmente "ser uma vestimenta" ou "ser uma fantasia". Principalmente (mas não somente) se você tentar pegar essas roupas e usá-las fora de contexto (ex. usá-las como fantasias de Halloween ou Carnaval).
•Tentar imitar a "identidade"; o que carrega profundo significado cultural indígena, bem como algumas pinturas corporais, cocares, dentre outros, elementos  que  "marcam"pode ser considerado reapropriação cultural.
• Pegar rituais, tradições antigas e danças tradicionais, todas com significado cultural, e transformá-las em fantasia, sem entender seu sentido profundo, só para que você tenha sua diversão e fantasia glamorosa. Qualquer tentativa de modificar tais tradições, torna- las "moda" ou "vendáveis" para os padrões não indígena-ocidentais, bem como se apropriar delas se pessoas dessas culturas antes declararam que isso seria ofensivo, é considerada apropriação cultural.

E por que isso é ofensivo? Porque na nossa sociedade, pessoas não indígena, podem se utilizar de elementos ou identidades de outras culturas e isso será visto como “fofo”, “moda”. mas, no momento em que uma pessoa indígena  que é parte daquela cultura resolve exigir para si o direito de usar vestimentas da nossa cultura, de falar sua língua, de praticar rituais, danças ou costumes da nossa tradição cultura,muitas vezes somos discriminados,teremos que aguentar piadinhas (estereotipadas), terá de aguentar críticas ferrenhas por ser vista como estranha,"exotica",vamos ser motivo de riso,ate sofrer agressões físicas,psicológicas,emocionais e, dependendo do lugar e de com quem esbarremos, poderemos até ser morto,como caso de Galdino Pataxó em memória.

Tentar invisibilizar a existência de outras culturas é apagar a identidade dos membros que dessas culturas fazem parte. Você pode apreciar/gostar/admirar outras culturas sem tentar usá-las como fantasias ou torná-las vendáveis para A SUA GENTE. Se você não foi convidado pelo coletivo a usar e a fazer parte de tal ritual, vamos ser justos e conhecer os limites.Sempre existirão aquelas pessoas que vão sair com um "Mas meu amigo chinês não liga se eu fizer!” e “Eu sou indígena e não ligo se as pessoas” mas lembre-se sempre que uma ou uma pessoas não podem falar por todas as pessoas de uma cultura, e não é somente porque um membro não se importam que outras pessoas que fazem parte dessas culturas não se importarão.
Tsitsina Xavante, Edgar Corrêa Kanaykõ, Valdelice Veron, Flávia Xakriabá, Benício Pitaguary, Luana Kaingang da Silva, Luana Kumaruara, Adriana Rocha, Amanda Jardim,Dinamam Tuxá, Luiz Henrique Eloy, Sonia Bone Guajajara, Weibe Tapeba."


Fonte: Facebook "Célia Xakriabá Mindã Ninthê"
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=705616152931593&id=100004496437989

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