"Livre das demandas do mercado, a arte começa a refazer a vida que está entre nós. Transformando o modo como nos relacionamos e fazemos arte, como nos recusamos e nos rebelamos, como amamos e comemos. Quando isso é feito num caldeirão de luta, numa ocupação, num movimento social, num protesto, novas amizades são tecidas, novas formas de viver se tornam possíveis. Este tipo de cultura nos aproxima ao invés de nos separar, e permite que a gente se encontre por entre os escombros. Estes momentos costumam carregar o nome "arte", re-produzem os sentimentos e excitam os sentidos, eles constroem desejos e mundos diferentes, alguns que talvez até diziam ser impossíveis. Esta é a arte que não mostra o mundo pra gente e sim o transforma. Esta arte de movimento social tem sua própria história secreta de performances rebeldes, imagens sutis, invenções insurrectas e sons sedutores. Nosso desafio hoje não é apenas relembrar este segredo da história da arte, mas descobrir e criar tendências no presente que tragam caminhos alternativos para a crise atual."
(Página 4)
"Esse guia não é um mapa rodoviário ou um manual de instruções. É um fósforo aceso no escuro."
(Página 5)
"A melhor mídia é o presente, Como disse Joseph Beuys, "Não espere pra começar, use o que você tem". Comece de onde você está. Caramba, você já começou. Quais são as ferramentas e as tendências a sua volta? Dentro de você? Ao seu lado? Você poderia começar com seu próprio corpo. É o ecossistema que você conhece melhor, a fonte de maior parte dos seus conhecimentos e sonhos. A arte dos movimentos sociais frequentemente começou com performances coletivas que usavam o corpo como seu primeiro e mais abundante recurso. "
(Pag 8)
"Quando os estudantes de arte ocuparam as faculdades em Paris, durante a rebelião de 1968, eles tomaram a sala de gravura e produziram milhares de cartazes. Recuperando a arte revolucionária do cartaz, que havia se perdido na França, em grande parte devido às leis que proibiam colar cartazes, os estudantes cobriram as paredes da cidade com simples imagens icônicas. A criatividade deles venceu a lei. Como dizia um dos cartazes: “il est interdit d’interdire” (é proibido proibir)."
Pag 9
"Para desmantelar e reinventar instituições ou sistemas, nós temos que começar pela raiz, com a cultura que as apoia. Cultura é o substrato material da política, é o alicerce lamacento sobre o qual ela é construída"
Pag 12
"Olhe ao redor. Nós estamos num espaço entre certezas, em um momento histórico onde a sociedade está mais maleável que o normal, onde o potencial tem poder e formas de vida mudam rapidamente. - See more at: http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/#sthash.PpYAvil9.dpuf"
Pag 14
"Quando você conhecer bem seu material e seu lugar... é hora de fugir. Tudo começa com um salto. Não é deserção como fuga, mas como engajamento. Se você se opõe a lógica de transformar arte ou educação em um mercado, você já se opõe a forma como esta lógica define você: você não é o artista, estudante, trabalhador que o capital precisa. Isso significa que você já começou a se abolir. "O fato de que eu me devoro a mim mesmo apenas demonstra que eu existo", declarava o manifesto que acompanhava as pinturas preto e branco de Rodchenko em 1919. Este auto-abolir-se, ou recusa da parte da sua identidade que se entregou às demandas do capital significa agir diferente, se comportar de formas que talvez nem tenham nome ainda. E sem sua identidade você está livre, o que você faz se torna mais importante do que quem você é, e o que você faz pode ser qualquer coisa. Você pode se surpreender como a arte que que esquece seu nome pode se infiltrar em espaços inesperados. Mover-se em outros tipos de fazer, outros tipos de relacionamentos, significa abandonar, ao menos parcialmente, as páginas da história da arte e suas instituições. E você não seria o primeiro."
(Página 4)
"Esse guia não é um mapa rodoviário ou um manual de instruções. É um fósforo aceso no escuro."
(Página 5)
"A melhor mídia é o presente, Como disse Joseph Beuys, "Não espere pra começar, use o que você tem". Comece de onde você está. Caramba, você já começou. Quais são as ferramentas e as tendências a sua volta? Dentro de você? Ao seu lado? Você poderia começar com seu próprio corpo. É o ecossistema que você conhece melhor, a fonte de maior parte dos seus conhecimentos e sonhos. A arte dos movimentos sociais frequentemente começou com performances coletivas que usavam o corpo como seu primeiro e mais abundante recurso. "
(Pag 8)
"Quando os estudantes de arte ocuparam as faculdades em Paris, durante a rebelião de 1968, eles tomaram a sala de gravura e produziram milhares de cartazes. Recuperando a arte revolucionária do cartaz, que havia se perdido na França, em grande parte devido às leis que proibiam colar cartazes, os estudantes cobriram as paredes da cidade com simples imagens icônicas. A criatividade deles venceu a lei. Como dizia um dos cartazes: “il est interdit d’interdire” (é proibido proibir)."
Pag 9
"Para desmantelar e reinventar instituições ou sistemas, nós temos que começar pela raiz, com a cultura que as apoia. Cultura é o substrato material da política, é o alicerce lamacento sobre o qual ela é construída"
Pag 12
"Olhe ao redor. Nós estamos num espaço entre certezas, em um momento histórico onde a sociedade está mais maleável que o normal, onde o potencial tem poder e formas de vida mudam rapidamente. - See more at: http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/#sthash.PpYAvil9.dpuf"
Pag 14
"Quando você conhecer bem seu material e seu lugar... é hora de fugir. Tudo começa com um salto. Não é deserção como fuga, mas como engajamento. Se você se opõe a lógica de transformar arte ou educação em um mercado, você já se opõe a forma como esta lógica define você: você não é o artista, estudante, trabalhador que o capital precisa. Isso significa que você já começou a se abolir. "O fato de que eu me devoro a mim mesmo apenas demonstra que eu existo", declarava o manifesto que acompanhava as pinturas preto e branco de Rodchenko em 1919. Este auto-abolir-se, ou recusa da parte da sua identidade que se entregou às demandas do capital significa agir diferente, se comportar de formas que talvez nem tenham nome ainda. E sem sua identidade você está livre, o que você faz se torna mais importante do que quem você é, e o que você faz pode ser qualquer coisa. Você pode se surpreender como a arte que que esquece seu nome pode se infiltrar em espaços inesperados. Mover-se em outros tipos de fazer, outros tipos de relacionamentos, significa abandonar, ao menos parcialmente, as páginas da história da arte e suas instituições. E você não seria o primeiro."
Pág 16
"A negação radical dos Dadaístas, que se recusavam à guerra, ao trabalho, à arte, à autoridade, à seriedade e à racionalidade, catalisou formas criativas de resistência inéditas ao se juntar com o núcleo dos movimentos antiguerra e anticapitalismo de Berlim, na época da República de Weimar. - See more at: http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/#sthash.PpYAvil9.dpuf"
Pag17
Dica de como NÃO fazer (rs!):
"“Tome cuidado com o presente que você cria, pois ele deve se parecer com o futuro dos seus sonhos”. (...) Uma passeata de A até B com cartazes, slogans repetitivos entoados por um coro rouco de vozes, pessoas protestando no frio por horas a fio, multidões escutando um barbudo declamando, faixas sem graça penduradas nos prédios, panfletos cheios de estatísticas desanimadoras… Estes atos se parecem com o futuro que queremos? De que outra forma podemos manifestar nossos desejos e demandas? Como essas ações podem ser feitas e sentidas?"
"Imaginando a arte do futuro, Alan Kaprow acreditava que “Nós podemos ver o sentido geral da arte mudar profundamente (...) ele entendeu que a arte carrega em si o potencial de criar imagens do futuro que podem ser ensaiadas no aqui e agora. As ações políticas mais bem sucedidas fazem o mesmo. Elas não apenas exigem ou bloqueiam algo, elas colocam nossos sonhos à mostra. Elas não dizem apenas NÃO, mas mostram de que outra forma poderíamos viver."
Pag 23
"As festas Reclaim the Streets (Recupere as Ruas) nos anos 90 não apenas libertaram as ruas do tráfego poluente. O mais importante é que elas encheram as ruas de corpos dançantes, música e uma visão de mundo onde política é prazer, e não sacrifício. "
Pag 23
"A negação radical dos Dadaístas, que se recusavam à guerra, ao trabalho, à arte, à autoridade, à seriedade e à racionalidade, catalisou formas criativas de resistência inéditas ao se juntar com o núcleo dos movimentos antiguerra e anticapitalismo de Berlim, na época da República de Weimar. - See more at: http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/#sthash.PpYAvil9.dpuf"
Pag17
Dica de como NÃO fazer (rs!):
"“Tome cuidado com o presente que você cria, pois ele deve se parecer com o futuro dos seus sonhos”. (...) Uma passeata de A até B com cartazes, slogans repetitivos entoados por um coro rouco de vozes, pessoas protestando no frio por horas a fio, multidões escutando um barbudo declamando, faixas sem graça penduradas nos prédios, panfletos cheios de estatísticas desanimadoras… Estes atos se parecem com o futuro que queremos? De que outra forma podemos manifestar nossos desejos e demandas? Como essas ações podem ser feitas e sentidas?"
Pag 22
"Imaginando a arte do futuro, Alan Kaprow acreditava que “Nós podemos ver o sentido geral da arte mudar profundamente (...) ele entendeu que a arte carrega em si o potencial de criar imagens do futuro que podem ser ensaiadas no aqui e agora. As ações políticas mais bem sucedidas fazem o mesmo. Elas não apenas exigem ou bloqueiam algo, elas colocam nossos sonhos à mostra. Elas não dizem apenas NÃO, mas mostram de que outra forma poderíamos viver."
Pag 23
"As festas Reclaim the Streets (Recupere as Ruas) nos anos 90 não apenas libertaram as ruas do tráfego poluente. O mais importante é que elas encheram as ruas de corpos dançantes, música e uma visão de mundo onde política é prazer, e não sacrifício. "
Pag 23
Dica de como FAZER:
"Eles fizeram sua própria instituição: The University of Strategic Optimism (A Universidade de Otimismo Estratégico) e, ao invés de aceitar a mercantilização da educação, eles começaram a educar o mercado dando palestras que ocupavam e redefiniam espaços de consumo – o hall de um banco, os corredores de um supermercado – como espaço de convivência e discussão."
Pag 24
"Em meados da década de 60, artistas e atores exilados em São Francisco que se chamavam de Diggers (Escavadores) abriram uma loja, ‘The Free Store’ (A Loja Grátis). Produtos podiam ser deixados, trocados ou levados. Os papéis também eram trocáveis. Uma placa na loja dizia “Se uma pessoa perguntar pelo gerente, diga que ela é o gerente”. A loja virou um lugar onde aqueles que fugiam do alistamento para o Vietnã conseguiam uma muda de roupa e documentos com selos “oficiais”, e deixavam seu uniforme militar na prateleira. Comida grátis era servida por uma janela amarela gigante para quem vinha de longe todos os dias, clínicas de saúde de atendimento gratuito foram montadas… Tudo podia ser grátis, eles diziam, e mostravam como isso podia ser feito através do que eles chamavam de “atuação-na-vida”, onde a arte estava no modo de vida que alguém leva, e não o contrário. Apesar da polícia ter fechado a loja, a tática criativa deles se espalhou nos EUA e, recentemente, uma Non-Commercial House Free Store (Casa Não-Comercial Loja Grátis) abriu na Commercial Street, no leste de Londres. "
Pag 24
"Mais informação não vai nos motivar a agir, nem as representações ou as imagens de política. O que nos faz mover é provar o gosto dos sonhos, daquilo que poderia ser, é entrar nas rachaduras por onde outro mundo surge à vista. - See more at: http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/#sthash.PpYAvil9.dpuf"
pag 25
"O que aconteceria se, de alguma forma, nós reconstruíssemos essas máquinas, se nós fizéssemos o que Guy Debord defendeu e iniciou, “produzindo a nós mesmos… e não as coisas que nos escravizam”. - See more at: http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/#sthash.PpYAvil9.dpuf"
pag 28
"O que aconteceria se, de alguma forma, nós reconstruíssemos essas máquinas, se nós fizéssemos o que Guy Debord defendeu e iniciou, “produzindo a nós mesmos… e não as coisas que nos escravizam”.
Dentro de quais máquinas você trabalha? Placas de rua e outdoors? Redes sociais e internet? As roupas que veste? Lojas chiques? Telefonia celular? Assim como a “saboteur” (sabotadora) original, que jogava seu tamanco – seu “sabot”, na máquina da fábrica para que ele prendesse as engrenagens e produzisse tempo livre para ela, ao invés de lucros para seu patrão, nós podemos fazer engenharia-reversa no mundo à nossa volta. Em Buenos Aires, depois de uma anistia para os ditadores que fizeram milhares “desaparecerem”, o Grupo de Arte Callejero (Grupo de Arte de Rua) projetou lições visuais de arte conceitual e instalou placas de rua que apontavam para as casas de generais genocidas."
pag 28
"Na virada do século 21, artistas ativistas de Barcelona nomearam seu grupo de Yo-mango, subvertendo a marca de moda ‘Mango’ e criando um trocadilho que quer dizer “eu furto” na gíria espanhola. O objetivo deles era reconstruir o comprar, “nós não devemos renunciar aos nossos desejos por coisas, e sim furtá-las”, eles declararam. Eles fizeram do furto às lojas uma forma de arte social e uma marca desejável em si mesma, o buraco feito no bolso de trás de uma calça jeans ao se arrancar o dispositivo antifurto foi promovido como sendo muito mais legal do que uma etiqueta da Levis. "
pag 29
Fonte: Como [exigir*] o impossível
(*obs.: a palavra "exigir" aparece riscada)
(*obs.: a palavra "exigir" aparece riscada)
Revista digital:
http://issuu.com/agenciatransitiva/docs/guia_impossivel?e=8109965/2875731
Site: Revista Carbono - natureza, ciência e arte
http://revistacarbono.com/artigos/06guia-para-exigir-o-impossivel/
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