quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Cultura popular e não folclore

Falar em cultura popular, e não folclore!

1 - 
"Acreditavam os primeiros folcloristas que as camadas populares ou “incultas” manifestavam apego a elementos culturais sobreviventes do passado, colocando-se à margem do progresso da sociedade considerada “culta” e do pensamento racional e científico. Notando, portanto, a existência de uma “cultura do inculto” (expressão irônica cunhada por Florestan Fernandes), esses pesquisadores esforçaram-se por criar uma disciplina diferenciada para seu estudo. Nascem, assim, o  Folclore , palavra que designa tanto a disciplina  quanto seu campo de estudos.
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Atualmente, expressões como “cultura popular tradicional” ou “cultures populares”  tendem a ser utilizadas em substituição a “folclore” a fim de se evitar  os vícios semânticos  que esse temo historicamente adquiriu - por exemplo, sua associação com práticas culturais consideradas exóticas ou anacrônicas, ou a possibilidade de ser  interpretado como o “nicho” epistemológico inventado para abrigar a cultura do povo, separando-a do resto da cultura brasileira. "

http://www.cachuera.org.br/cachuerav02/index.php?option=com_content&view=article&id=273:sp-corpo-e-alma-folclore-ou-cultura-popular&catid=90:spcorpoalma&Itemid=110

2 - 
" o principal problema é que os estudos folclóricos registram e “imortalizam” as manifestações populares em uma forma fixa, quando essas manifestações são naturalmente dinâmicas e mutantes. Enquanto transmitidas oralmente de geração para geração através da memória popular, que não é exata e está constantemente sujeita a diversas influências, as lendas, crendices, brincadeiras, festas e costumes ganham variações, adaptações e são modificadas freqüentemente. Ao registrarem essas manifestações orais em livros e filmes, os estudos folclóricos tendem a criar um estereótipo delas e a caracterizar a cultura popular como algo imutável e conservador."

http://pessoas.hsw.uol.com.br/folclore.htm

3 -
“As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”

Eduardo Galeano - Livro dos Abraços
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Textos na íntegra:

1 - 

São Paulo Corpo e Alma - Folclore ou Cultura Popular?



As expressões de que nos servimos para designar a cultura produzida pelo povo são variadas : folclore, cultura popular, cultura popular tradicional, cultura raiz. Mais recentemente, ela tem sido tratada como Patrimônio Imaterial . Se por um lado todas essas expressões procuram delimitar o objeto ou conceito que representam , por outro cada um deles carrega um conjunto de significados que vai além do campo semântico, situando-se nos domínios da ideologia.



Recentemente o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que anteriormente considerava como patrimônio apenas os bens materiais, como os conjuntos arquitetônicos com valor histórico, passou a incluir entre os bens cuja preservação é de interesse nacional os chamados “bens imateriais”, representados pelas formas de expressão e conhecimentos das culturas populares tradicionais. Diferentemente do material, o patrimônio imaterial não é “tombado”, mas “registrado”, após um processo de inventário de suas ocorrências regionais. Entre as primeiras tradições populares a serem registradas como patrimônio imaterial estão o acarajé (BA), as panelas de cerâmica de Goiabeiras (ES), a viola de côcho (MT e MS), o samba de roda (BA), e, mais recentemente, o jongo do Vale do Paraíba (SP, RJ e MG).



O termo folclore  refere-se ao campo de estudos de uma disciplina (Folclore ou Estudos de Folclore) surgida no século XIX sob inspiração positivista e evolucionista, tendo por objeto “a cultura tradicional nos meios populares dos países civilizados”, conforme definiu Saintyves. Acreditavam os primeiros folcloristas que as camadas populares ou “incultas” manifestavam apego a elementos culturais sobreviventes do passado, colocando-se à margem do progresso da sociedade considerada “culta” e do pensamento racional e científico. Notando, portanto, a existência de uma “cultura do inculto” (expressão irônica cunhada por Florestan Fernandes), esses pesquisadores esforçaram-se por criar uma disciplina diferenciada para seu estudo. Nascem, assim, o  Folclore , palavra que designa tanto a disciplina  quanto seu campo de estudos.



Com o desenvolvimento de ciências como a Sociologia e a Antropologia, os folcloristas passam a ser criticados por alguns acadêmicos dessas áreas: suas análises das práticas culturais a que denominam “fato folclórico” teriam pouca consistência quando consideradas sob o prisma das ciências sociais, uma vez que  separam essas práticas do contexto social em que elas ocorrem. Isso limitaria a atuação dos estudos do folclore a descrições e observações sobre a forma das manifestações estudadas.



Essas críticas no plano metodológico não impedem, entretanto, que se reconheça a grande importância que tiveram os pesquisadores do Folclore no plano da documentação e da ação cultural e educativa: foram eles os primeiros estudiosos a valorizar a produção cultural popular, a qual trataram (e têm tratado) com grande amor e dedicação. Incansáveis divulgadores da arte do povo, elaboraram projetos educacionais, promoveram registros e fundaram museus, como ocorreu no Brasil durante o chamado “movimento folclórico” dos anos 40 a 60. Recolheram importantes cancioneiros que até hoje interessam a diferentes campos das Ciências Sociais e das Artes. Tivemos entre os folcloristas pensadores do porte de Câmara Cascudo (datas) e Mário de Andrade (datas), e mesmo cientistas sociais de renome como  Florestan Fernandes (datas).



Atualmente, expressões como “cultura popular tradicional” ou “cultures populares”  tendem a ser utilizadas em substituição a “folclore” a fim de se evitar  os vícios semânticos  que esse temo historicamente adquiriu - por exemplo, sua associação com práticas culturais consideradas exóticas ou anacrônicas, ou a possibilidade de ser  interpretado como o “nicho” epistemológico inventado para abrigar a cultura do povo, separando-a do resto da cultura brasileira. Cultura popular tradicional  refere-se ao conjunto da  cultura material e imaterial produziada pelo povo miscigenado brasileiro  (o que não inclui as comunidades indígenas, delimitação também operada pelo Folclore). É tradicional, portanto veiculada principalmente pela tradição oral através de incontáveis gerações, diferenciando-se, por um lado, da cultura de massa ou de mercado, e por outro, da erudita, embora mantendo com as duas relações dinâmicas de intercâmbio. 

Fonte: Associação cultural Cachoera



2 - 

Origens da Cultura Popular e do Folclore

Rapunzel, Curupira, Branca de Neve, Boitatá, Saci Pererê, João e Maria. Durante séculos, essas lendas, além de inúmeras crendices e costumes, foram transmitidas oralmente e ganharam novas versões de geração para geração, de cultura para cultura, para formar um amplo repertório do saber popular ao redor do mundo. Em determinados momentos, muito do que fazia parte da tradição oral ganhou versões literárias, como as dos Irmãos Grimm para Branca de Neve, Cinderela e João e Maria, ou as de Monteiro Lobato para o Saci e a Mula-sem-cabeça. Para identificar e estudar essas manifestações das culturas populares, surgiu no século 19 uma nova terminologia e um novo campo do conhecimento: o folclore.
Curupira
O Curupira, um dos mitos mais antigos do folclore brasileiro
Foi o britânico William John Thoms quem sugeriu em 1846 que uma nova palavra fosse adotada para se referir a essas tradições populares, a partir da junção dos termos em inglês folk (povo) mais lore (saber). A idéia pegou e o termo folclore passou ao mesmo tempo a designar o conjunto das manifestações da cultura popular e a ser um campo de estudos dessas manifestações.
Mas a visão que o folclore e os folcloristas têm das culturas populares é alvo de críticas de pesquisadores que se debruçam sobre o assunto. Segundo eles, o principal problema é que os estudos folclóricos registram e “imortalizam” as manifestações populares em uma forma fixa, quando essas manifestações são naturalmente dinâmicas e mutantes. Enquanto transmitidas oralmente de geração para geração através da memória popular, que não é exata e está constantemente sujeita a diversas influências, as lendas, crendices, brincadeiras, festas e costumes ganham variações, adaptações e são modificadas freqüentemente. Ao registrarem essas manifestações orais em livros e filmes, os estudos folclóricos tendem a criar um estereótipo delas e a caracterizar a cultura popular como algo imutável e conservador.
Outra corrente de estudos que discorda da abordagem do folclore, mas de forma bem menos radical, surgiu nos anos 60. O folklife entende que o folclore concentra seus esforços no estudo da tradição oral e deixa em segundo plano elementos materiais como os produtos e as habilidades dos artesãos populares, por exemplo. Mas tanto o folclore como o folklifeconcentram seus estudos em quatro campos: na expressão oral, que inclui as narrativas, poemas e canções populares, na cultura material, que inclui a fabricação de roupas, técnicas de trabalho, mobiliário e culinária popular, nos costumes sociais, como os ritos de passagem e as interações sociais nos grupos, e nas manifestações artísticas, como a música, a dança e o teatro.
Carnaval
Agência Estado
Celebração do Carnaval em Santos (SP) nos anos 60;
o Carnaval é uma das mais universais manifestações da cultura popular
Seja com uma visão folclórica ou não, o que está no centro das atenções, quando se fala de folclore, é a cultura popular. E uma das manifestações mais universais dessa cultura são os contos de fadas, um produto da tradição oral que se metamorfoseou ao longo dos tempos. Antes de virarem contos de fadas destinados às crianças, as historinhas de “Chapeuzinho Vermelho”, “A Bela Adormecida” e tantas outras começaram como narrativas populares para adultos, com cenas de adultério, incesto e mortes violentas. A oralidade na transmissão dessas histórias possibilitou uma série de adaptações em seus enredos, de geração para geração, até ganharem versões “definitivas” por escritores como Charles Perrault, no século 17, ou os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, no século 19.
Outro aspecto da cultura popular que foi folclorizado são as festas e celebrações. Uma das mais universais dessas manifestações e que ainda sobrevive é o Carnaval. Outras, porém, foram completamente transformadas, como as ligadas aos ciclos das estações e da agricultura. A celebração do solstício de inverno era comum nas culturas nórdica, romana e celta, que o celebravam com festas que duravam dias, como as Saturnálias Romanas, com seus banquetes, orgias e sacrifícios. Com a imposição do Cristianismo, essas celebrações profanas deixaram de existir ou se adaptaram aos princípios cristãos. As festas do solstício de inverno, por exemplo, foram substituídas pelo Natal. Celebrações do solstício de verão europeu se transformaram no Dia de São João, com o predomínio da tradição católica. Trazidas ao Brasil pelos portugueses e outros imigrantes europeus, elas viraram as festas juninas.
Conheça a seguir alguns dos componentes da cultura popular brasileira que são considerados como parte do folclore nacional.

Fonte: Howstuffworks? - Como tudo funciona?

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