sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quase tudo da rua...

Avisa
Fala Mansa

Quero ver, quem segura essa barra
Até a hora que eu voltar
Vou sair, pra preencher um vazio no peito
Tô meio sem jeito de falar

Quero ver, se eu cair agora
Quem é que vai me levantar


Já pedi ao sol,
Já pedi ao mar
Já pedi à lua
Às estrelas do céu já pedi
Quase tudo que consegui
Eu ganhei da rua


Deixo na mão de quem quiser (3x)

É que eu não sou um ator
E se eu sinto dor
Tenho que chorar
(2x)

Lêlalalauela
Lêlalalauela laie laia laia (2x)

Quero ver, quem segura essa barra
Até a hora que eu voltar
Vou sair, pra preencher um vazio no peito
Tô meio sem jeito de falar
Quero ver, se eu cair agora
Quem é que vai me levantar

Já pedi ao sol,
Já pedi ao mar
Já pedi à lua
Às estrelas do céu já pedi
Quase tudo que consegui
Eu ganhei da rua

Deixo na mão de quem quiser (3x)

É que eu não sou um ator
E se eu sinto dor
Tenho que chorar

Mais que eu não sou um ator
E se eu sinto dor
Tenho que chorar

Avisa, avisa, avisa , avisa...
Se o sol brilhar de novo no horizonte
Avisa
E pode ter certeza que eu tô lá pra ver
Avisa
Se a liberdade te trair e precisar de alguém
Avisa
Ou se tudo correr bem e não precisar
Avisa
Parece até que o vento traz o sentimento
Avisa
Ele nem faz questão de nos avisar
Avisa
Pro vento que traz sofrimento
Que sopre pra outro lugar
Avisa
Pro vento que traz amor
Não vejo a hora de você chegar
Lêlalaue, chegar, ahhhh, chegar, ahhhhhh, chegar, ahhhh

Lêlalalauela
Lêlalalauela laie laia laia (2x)
Simbora..!

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=XIlCDw60ca0

terça-feira, 28 de maio de 2013

O outro...

O problema é quando toda a tua consciência tá na ponta dos dedos, no pescoço do outro!

domingo, 26 de maio de 2013

Universidade Federal Rural do Rio vai instaurar comissão da verdade


Universidade Federal Rural do Rio vai instaurar comissão da verdade para investigar casos de perseguição e tortura


http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterrio/episodio/universidade-federal-rural-do-rio-vai-instaurar-comissao-da-verdade-para

24.05.2013

sábado, 25 de maio de 2013

O TDAH existe? Uma reflexão sobre

Humberto Maturana

05/21/2013 — 4 Comentários
~ Marilyn Wedge
EQ Maturana

Em julho de 2012, assisti a uma palestra do ilustre biólogo, filósofo e pensador construtivista chileno, Humberto Maturana, numa conferência em que nós dois éramos palestrantes. Maturana é mais conhecido por sua teoria da autopoiese. Simplificando, a autopoiese (que significa, literalmente, auto-criação) é a visão de que o mundo em que vivemos é um mundo que nós mesmos criamos.

De acordo com Maturana, toda a realidade, incluindo o fato de que as teorias científicas pretendem elucidar, é em última análise, auto-referencial e, portanto, deve levar em conta os cientistas que estão executando a elucidação. Todas as construções teóricas contêm implicitamente uma referência para a pessoa que está fazendo a teorização. E, de acordo com Maturana, é mais honesto estar ciente da auto-reflexividade de nossas teorias do que não estar. Ele é, em certo sentido, a encarnação moderna do antigo sofista Protágoras, que disse a famosa frase: “O homem é a medida de todas as coisas.”

É claro que muitas pessoas acusaram Maturana de solipsismo [a teoria que considera que o eu não pode conhecer nada além de suas próprias modificações e que o ego é a única coisa existente], mas acho que essa crítica não entendeu o ponto principal. A importância do que Maturana está tentando transmitir pode ser melhor compreendida se entendermos sua filosofia como uma contramedida ao dogmatismo. A visão de Maturana é humilde – assim como ele mesmo se mostra mais humilde do que seria de se esperar, considerando sua fama e importância como biólogo e filósofo. Suas idéias nos levam a questionar afirmações sobre a realidade que não levam em conta a agenda ou os motivos das pessoas que estão fazendo a afirmação.

Como terapeuta, eu achei ponto de vista radical de Maturana muito de acordo com a maneira como vejo o meu trabalho. Quando a criança ou o jovem entra no meu consultório, muitas vezes ele tem uma ou mais etiquetas de diagnóstico. Um pai vai me dizer, “o professor do meu filho acha que ele tem TDAH ou TOC” ou “o pediatra da minha filha diz que ela tem TDAH.”

Quando você pensa sobre isso, o TDAH é uma construção humana, em particular, a construção de um painel de psiquiatras, que é o autor de um manual de diagnóstico chamado o DSM4. E muitos destes palestrantes, 56% deles para ser exata, aceitaram dinheiro de empresas farmacêuticas, durante o tempo em que estavam criando os diagnósticos no manual. Aqui está um exemplo importante de como a natureza reflexiva das construções teóricas devem ser levadas em conta para serem compreendidas.

Portanto, a resposta à pergunta: “Será que o TDAH existe?” realmente depende da agenda do observador. Pessoalmente, acho que é mais útil descobrir as causas sociais subjacentes da inquietação ou distração da criança e fazer alterações específicas no ambiente social para remover os estressores. A criança ouve seus pais brigando ou discutindo o tempo todo? A criança está sendo abusada? A criança tem um professor que não é capaz de lhe dar a atenção extra que ela precisa, porque tem que lidar com uma sala de aula superlotada?

Eu não preciso construir um diagnóstico de TDAH para ajudar uma criança. Na verdade, a construção de um diagnóstico de TDAH não é útil a todos, porque a única maneira de tratá-la é por medicamentos estimulantes, que podem, a longo prazo, ser prejudiciais para o desenvolvimento do cérebro da criança ou a predispor a se tornar um viciado em drogas quando se tornar um jovem adulto. Além disso, a construção do diagnóstico tende a obscurecer a causa da angústia da criança. O diagnóstico não me ajuda a descobrir o que eu preciso fazer para ajudar as crianças a superarem seus problemas. A construção de um diagnóstico, no entanto, é muito útil para as empresas farmacêuticas, que só se interessam pelas drogas, e também para os autores do DSM, que dependem de empresas farmacêuticas para financiarem suas pesquisas e lhes proporcionar férias caprichadas.

Partindo disso, podemos ver o poder da teoria construtivista de Maturana como um antídoto para afirmações dogmáticas sobre a realidade – em particular, do complexo psico-farmacêutico. Usando o ponto de vista construtivista de Maturana, o TDAH não existe como uma realidade objetiva, e cabe ao terapeuta individual, escolher construir o problema de um filho como TDAH ou não.


Fonte: http://equilibrando.me/2013/05/21/o-tdah-existe/

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Há sempre uma ausência

"Há sempre uma ausência que me atormenta."

"Il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente"
Camille Claudel

Sobre “bolsa-crack”, maioridade penal, morte do “Matemático”

 Resumo da ópera:

1) Redução da maioridade penal: (...) Quem quer que tenha iniciado essa campanha agiu de má-fé e propositalmente confundiu o conceito de maioridade penal com o de responsabilidade penal, que são coisas distintas. No Brasil temos maioridade penal aos 18 anos e responsabilidade penal aos 12 (...) O Ministério Público do estado do Paraná também possui um site destinado a comparar as idades de maioridade e responsabilidade penal nos diversos países. Como qualquer um pode conferir com base nas referências, as campanhas pela redução da maioridade penal que comparam a nossa legislação com a de diversos países são extremamente mentirosas. (...)

Além disso, a reincidência dos menores que já foram internados chega a 80% em alguns lugares do nosso país, (...) A reincidência de criminosos adultos também é incrivelmente alta, de 70%.

(...) Vejo muitos defendendo que a redução seja para dezesseis anos, mas sem nenhuma justificativa objetiva para isso.

(...) Por ironia, países em que as prisões são mais humanas conseguem reabilitar boa parte dos seus presos. É o caso da Noruega, que recupera 80% da população carcerária

(...) “Mas então devemos deixar esses menores matando por aí, certos de que não haverá punição?”, vocifera o “cidadão de bem” indignado. Claro que não. Para começar, entre 70% e 80% dos crimes praticados por menores são contra o patrimônio. Eles estão pichando muros e furtando, não matando. Só 11,6% cometem crimes contra a vida (homicídio, por exemplo).

3) Auxílio-reclusão ou “bolsa-bandido”:
Trata-se de um benefício destinado aos dependentes do preso, não a ele próprio. (...) E o benefício é válido apenas para presos que estavam contribuindo com o INSS no momento da prisão.

(...) o valor recebido é determinado com base no salário-base de contribuição, e não é necessariamente maior do que o salário mínimo (...) há um limite para o valor do auxílio – quem ganhava salários altos antes de ser preso não tem direito ao auxílio-reclusão.

4) Cartão-recomeço ou “bolsa-crack”:
O uso de drogas hoje é visto no país como uma doença e, apesar de ainda ser crime (vide artigos 28 a 30 da lei 11.343/2006), não cabe mais a reclusão em presídio.

(...) o cartão se destina ao pagamento de clínicas para o tratamento do dependente químico, e nem o usuário de drogas e nem a família dele terão acesso ao dinheiro. O benefício só abrangerá usuários que procurem o tratamento voluntariamente, e cabe à clínica controlar o uso do dinheiro e a frequência do dependente químico no tratamento, pois é ela que ficará em posse do cartão.

(...)

E qual a razão de tantas pessoas defenderem sandices quando o assunto é segurança pública? Em parte, creio que o problema esteja com a venda casada de ideologias, assunto que abordei em ocasião anterior. O brasileiro mediano é tão desesperado para se encaixar em um grupo social qualquer que voluntariamente abre mão de seu raciocínio crítico assim que se apresenta a oportunidade, sucumbindo a falsas dicotomias e maniqueísmo tolo.

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Matéria na íntegra:

10.maio.2013

“O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que já possuem” – René Descartes.

O motivo de começar esse texto com uma citação tão entupida de sarcasmo e ironia publicada pelo famoso filósofo francês em 1637 (na obra “Discurso sobre o método”) é bem simples: falta-nos bom senso.

Tenho visto em todos os lugares – principalmente nas redes sociais – pessoas revoltadas se manifestando sobre as últimas notícias a respeito da criminalidade. Os assuntos mais populares são, na ordem: 1) redução da maioridade penal; 2) morte do traficante “Matemático”; 3) auxílio-reclusão; 4) “bolsa-crack”. Quase todos os discursos seguem o mesmo padrão: exigem endurecimento na forma como tratamos os criminosos, acham absurdas as medidas atuais do governo e discutem a legislação vigente. É até engraçado ver como subitamente todos, sem exceção, tornaram-se PhD’s em direito. Abordarei os assuntos na mesma ordem.

1) Redução da maioridade penal: Circulam por aí quadros comparativos informando que a maioridade penal em diversos países é mais baixa do que no Brasil, e questionando por que o nosso país seria “o único correto” e “todos os demais países estariam errados”. Nelson Rodrigues chamaria isso de “síndrome de vira-latas”. O cidadão mal-informado, como era de se esperar, se convence facilmente por esse tipo de discurso e passa a repeti-lo. O problema é que a informação é falsa. Quem quer que tenha iniciado essa campanha agiu de má-fé e propositalmente confundiu o conceito de maioridade penal com o de responsabilidade penal, que são coisas distintas. No Brasil temos maioridade penal aos 18 anos e responsabilidade penal aos 12, que é a idade a partir da qual um jovem pode passar por “medidas socioeducativas” – o que inclui internação, que nada mais é do que um termo maquiado para encarceramento em uma prisão juvenil. A Youth Justice Board, órgão público do Reino Unido, possui um relatório bem interessante sobre a maioridade penal nos diversos países, incluindo uma tabela comparativa que pode ser encontrada na página 35. A responsabilidade penal está listada no mesmo link, na página 30. O Ministério Público do estado do Paraná também possui um site destinado a comparar as idades de maioridade e responsabilidade penal nos diversos países. Como qualquer um pode conferir com base nas referências, as campanhas pela redução da maioridade penal que comparam a nossa legislação com a de diversos países são extremamente mentirosas.

Mas vamos assumir que, apesar de serem falsos todos os dados que os recém-PhD’s em direito formados nas redes sociais usam para embasar suas posições, o Brasil ainda considere a ideia de reduzir a maioridade penal. As prisões brasileiras possuem um déficit de 240.000 vagas. Pretendemos colocar ainda mais gente na cadeia? 40% desses presos são provisórios e muitos, inocentes, sofrem com as condições sub-humanas das nossas prisões e acabam com sequelas irreversíveis. Não são incomuns casos de inocentes que apanharam ou foram estuprados e ainda sofrem com as consequências. Talvez os adeptos da redução da maioridade penal pretendam resolver o déficit de vagas colocando aqueles que infringem a lei em contêineres, como já ocorreu no Pará e no Espírito Santo.

Além disso, a reincidência dos menores que já foram internados chega a 80% em alguns lugares do nosso país, o que é muito alto e mostra como a ideia de colocar todo mundo na cadeia é tresloucada. A proposta do senso comum é usar a lei e o estado como uma chantagem contra o contraventor: “se você transgredir a lei, vai pra prisão”. Só que colocá-lo na cadeia com a nossa estrutura carcerária atual estimula o menor a infringir a lei novamente. Em outras palavras: pôr os menores na prisão não resulta em nenhum benefício para o restante da sociedade. E se eles sofressem penas da mesma forma e intensidade que os adultos? A reincidência de criminosos adultos também é incrivelmente alta, de 70%.

Além do mais, Qual seria o critério para estabelecer a nova idade de maioridade penal? Vejo muitos defendendo que a redução seja para dezesseis anos, mas sem nenhuma justificativa objetiva para isso. Por que não dezessete? Por que não quinze? E catorze? Qual será o critério para determinar a idade? É um critério objetivo ou se baseia somente em “achismos”? Quem nos garante que com a redução da maioridade penal para, por exemplo, dezesseis anos, os chefes de gangues não começariam a cooptar adolescentes ainda mais jovens para o crime?

Por ironia, países em que as prisões são mais humanas conseguem reabilitar boa parte dos seus presos. É o caso da Noruega, que recupera 80% da população carcerária (só tem 20% de reincidência). Existe uma diferença de mentalidade entre eles e nós: lá as prisões servem para fazer bem à sociedade, e não para fazer mal a um indivíduo que parte da população considerou “indesejável”.

“Mas então devemos deixar esses menores matando por aí, certos de que não haverá punição?”, vocifera o “cidadão de bem” indignado. Claro que não. Para começar, entre 70% e 80% dos crimes praticados por menores são contra o patrimônio. Eles estão pichando muros e furtando, não matando. Só 11,6% cometem crimes contra a vida (homicídio, por exemplo). E, independente de qual seja a infração ou crime que cometam, eles devem ser punidos. Só não devemos nos deixar levar por um sentimento generalizado de vingança social quando discutirmos as punições. Até hoje ninguém forneceu um único argumento a favor da diminuição da maioridade penal que não se baseasse em algum tipo de vingança contra o infrator. É sempre a repetição das mesmas frases: “e se fosse com você e com sua família?” (e quem disse que nunca me aconteceu?), “não podemos deixar eles soltos” (como se a única forma de punição legalmente prevista fosse cadeia – serviço comunitário é punição, multa é punição…), “eles precisam ser punidos” (sendo que o propósito social do sistema carcerário não é punir, e sim reabilitar), e assim por diante. O único discurso que vejo não se basear em vingança é “se podem votar aos 16 anos, por que não poderiam responder criminalmente?”. Embora persuasivo, esse questionamento tem tanta validade quanto perguntar: “se a bicicleta é vermelha, por que o chocolate não é salgado?”. Misturam categorias diferentes.

2) Morte do traficante “Matemático”: Não foi por acaso que escolhi uma citação de René Descartes, famoso matemático, para iniciar esse texto. Mas deixemos o sarcasmo de lado. Recentemente uma conhecida rede de televisão divulgou um vídeo sobre uma operação policial ocorrida um ano atrás, na qual um perigoso traficante foi morto por policiais que efetuaram disparos a partir de um helicóptero.

Aqueles que pedem o embrutecimento do estado alegam que é função do policial eliminar elementos nocivos à sociedade, principalmente se houver resistência à prisão. Embora eu concorde que se houver resistência à voz de prisão o policial pode (e deve) usar a força, não necessariamente essa força deve ser letal. Só se deve usar força letal se o suspeito apresentar risco à vida do agente ou de terceiros. Não foi o caso nesta situação. Os policiais atiraram primeiro e sequer havia como darem voz de prisão pois estavam no alto, em um helicóptero. Não estavam reagindo, pois os suspeitos só atiraram depois da primeira salva vinda do helicóptero da polícia. Foi uma execução sumária.

Considere-se ainda como agravante o fato de que os policiais distribuíram disparos a esmo em uma área densamente habitada como se fossem personagens em um jogo de videogame. Qualquer praticante de tiro sabe que toda munição disparada representa um risco, ela irá atingir algo. Se esse “algo” é um objeto inanimado ou uma pessoa é onde reside a diferença entre um tiro que errou e uma bala perdida que ceifou a vida de alguém.

Além disso, nunca foi função do policial eliminar criminosos. A população trata a polícia como um grupo organizado de capatazes, jagunços ou capitães-do-mato que possuem a função de “nos” proteger (os “humanos direitos”) “deles” (os “bandidos”). Não é assim que funciona, a coisa não é preto-no-branco. Essa não é nem nunca foi a função do policial, e no dia em que passar a ser ele será exatamente igual a qualquer gângster comum. Infelizmente, por falta de formação, alguns policiais absorvem esse discurso do senso comum e não só já agem assim, como propagam esse modo de pensar aos quatro ventos. Não são incomuns casos de cidadãos confundidos com criminosos e executados pela nossa polícia extremamente mal-treinada. Provavelmente poucos ainda se lembram do caso do menino João Roberto, que morreu após ter sido atingido por um tiro quando a polícia abriu fogo contra o carro de sua mãe. Há ainda o caso de Hélio Ribeiro, morador do Morro do Andaraí, que foi morto quando um policial confundiu sua furadeira com uma arma de fogo. E o que dizer sobre o também menino Juan Moraes, que foi assassinado por policiais que ainda tentaram esconder seu corpo? Esses são só alguns casos dentre vários que se repetem diariamente Brasil afora.

Não podemos permitir que a polícia aplique penas sumárias sem que os suspeitos sejam julgados pelo simples fato de que isso implodiria nossa sociedade por quebrar a divisão entre os três poderes (executivo, legislativo e judiciário). A polícia é um dos braços do executivo, não cabe a ela o papel tríplice de julgar, determinar e aplicar penas. Julgar e determinar penas é função do judiciário. Muitos inocentes morrerão se invertermos os papéis. Precisamos de uma polícia eficiente, bem treinada e bem equipada, mas a função dela não é caçar bandidos e abatê-los. Sua função é levá-los ao judiciário. Uma polícia embrutecida e que ministra a violência da forma que quiser, sem nada que a regulamente, não é muito diferente de uma gangue.
Estão dizendo, sobre a morte do “Matemático”, que é menos um. A verdade é que o mataram sem mais nem menos.

3) Auxílio-reclusão ou “bolsa-bandido”: Aparentemente nenhuma das pessoas que protestaram contra isso se deu ao trabalho de verificar as regras da previdência social em relação ao auxílio-reclusão. Trata-se de um benefício destinado aos dependentes do preso, não a ele próprio. Isso significa que se um pai de família for preso por um motivo qualquer, sua esposa e seu filho não passarão fome e não terão de entrar na criminalidade para se sustentarem. E o benefício é válido apenas para presos que estavam contribuindo com o INSS no momento da prisão. “Mas que criminoso contribui com o INSS?”, pergunta o “cidadão de bem”. Exato: o benefício não se destina a criminosos contumazes (os “bandidos profissionais”), mas a pessoas comuns, com empregos, com dependentes, que porventura acabem cometendo algum crime e sejam presas por isso. Além disso, o valor recebido é determinado com base no salário-base de contribuição, e não é necessariamente maior do que o salário mínimo – se o preso sempre contribuiu com um valor equivalente ao salário mínimo, sua família receberá este valor. Se ele contribuiu com mais, há um limite para o valor do auxílio – quem ganhava salários altos antes de ser preso não tem direito ao auxílio-reclusão.

4) Cartão-recomeço ou “bolsa-crack”: É interessante ver como o brasileiro sempre reclama que a lei não é cumprida, mas quando o governo decide cumprir as leis atribuem ao fenômeno um nome falacioso qualquer e demonstram resistência à ideia.

O uso de drogas hoje é visto no país como uma doença e, apesar de ainda ser crime (vide artigos 28 a 30 da lei 11.343/2006), não cabe mais a reclusão em presídio. O cartão-recomeço, que foi apelidado de “bolsa crack”, é a previsão legal (artigos 20 a 26 da referida lei) de que o governo deve implementar políticas públicas para tratamento dos usuários de drogas. Novamente, a maioria das pessoas não se deu ao trabalho de procurar saber que o cartão se destina ao pagamento de clínicas para o tratamento do dependente químico, e nem o usuário de drogas e nem a família dele terão acesso ao dinheiro. O benefício só abrangerá usuários que procurem o tratamento voluntariamente, e cabe à clínica controlar o uso do dinheiro e a frequência do dependente químico no tratamento, pois é ela que ficará em posse do cartão. Se o temor do “cidadão de bem” é que o dinheiro do contribuinte seja usado para comprar drogas e a pessoa afunde ainda mais no vício, esse cidadão é um idiota que sequer procura uma informação antes de enunciar seu julgamento a respeito.

Então, após tantas críticas, como resolver o problema da criminalidade? Não é tarefa simples. Todas as posições dantescas que vemos serem defendidas pelos especialistas em segurança pública formados em redes sociais se baseiam justamente na simplificação absurda de um problema altamente complexo. É necessário aumentar a eficiência do judiciário, construir novos presídios – bem equipados e organizados, como os Noruegueses – para suprir o déficit de vagas e treinar a polícia para que execute sua função apropriadamente. Com a primeira medida, teríamos um desafogamento dos presos provisórios e decisões mais céleres que retirassem de circulação os criminosos realmente perigosos. Com a segunda, teríamos presídios que efetivamente recuperassem os presos ao invés de piorá-los, diminuindo a reincidência. Com a terceira, passaríamos a ter medo apenas dos criminosos, e não temeríamos cruzar o caminho de algum policial que pensa estar em uma zona de guerra.

E qual a razão de tantas pessoas defenderem sandices quando o assunto é segurança pública? Em parte, creio que o problema esteja com a venda casada de ideologias, assunto que abordei em ocasião anterior. O brasileiro mediano é tão desesperado para se encaixar em um grupo social qualquer que voluntariamente abre mão de seu raciocínio crítico assim que se apresenta a oportunidade, sucumbindo a falsas dicotomias e maniqueísmo tolo. Se você criticar uma ação da polícia, é porque “é contra a polícia” e, consequentemente, “é a favor dos bandidos”. Foi assim que surgiu o trocadilho imbecil de qualificar como “defensor dos direitos dos manos” qualquer um que critique a forma como o sistema penal ou o carcerário funcionam no nosso país. Como afirmou um leitor, as pessoas tendem a terceirizar o seu pensamento ao invés de coletarem informações e formularem uma opinião própria.
Em resumo: falta-nos bom senso. Mesmo que julguemos que já o possuímos em quantidade suficiente.

Agradeço a Vinícius Arena por indicar as leis referentes ao quarto tópico abordado.

Fonte: http://www.enfu.com.br/sobre-bolsa-crack-maioridade-penal-morte-do-matematico-e-assuntos-correlatos/


Su:
Muito complicado essa ideia de punição pela grana e por medida socieducativa! A grana é sempre pra quem não pode pagar e as medidas são parcamente cumpridas! Eu admito...

Quanto a função da polícia, é uma instituição falida em si!

E segurança pública pra mim não é caso de polícia! A polícia só entra no final, pra oprimir e DESFAZER a cena d conflito, independente dos agentes envolvidos.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A encruzilhada do combate às drogas



Governo brasileiro discute projeto de lei que insiste em criminalização e internação involuntária, mas experiências do passado e do presente apontam caminho alternativo

(De O Globo, 11/05/2013, Prosa e Verso)

Quando pensamos sobre drogas, o medo e o estigma tendem a ser obstáculos ao pargmatismo. O desejo de eliminar o problema fala mais alto do que o pensamento racional. O PL 7663/10, que está sendo discutido no Congresso Brasileiro, segue esta direção ao insistir na criminalização do uso de drogas, penas mínimas obrigatórias e internação involuntária para dependentes.

O Brasil deveria estudar os últimos 40 anos de guerra às drogas: os fatos demonstram que, apesar dos investimentos de trilhões de dólares em repressão e encarceramento em massa, o consumo de drogas não foi reduzido e continua sendo um mercado lucrativo para o crime organizado.

A razão para tamanho fracasso é simples, embora algumas pessoas tenham dificuldade em aceitá-la: não existe sociedade livre de drogas. Desde o início dos tempos, os seres humanos buscaram e utilizaram substâncias que alteram corpo e mente. A verdadeira questão não é como se livrar das drogas, mas como implementar políticas e programas que eduquem as pessoas para reduzir o abuso e a violência e garantir a saúde e segurança dos cidadãos.

Deveríamos estar nos perguntando: quanto custa aos cofres públicos manter usuários e pequenos traficantes não violentos em presídios? Esta prática está reduzindo o consumo de drogas? Estamos ajudando estas pessoas a se recuperar e se reintegrar à sociedade? Estes recursos poderiam ser melhor empregados em pesquisas e tratamentos? Questionamentos que não são feitos permanecem sem respostas, mas uma consulta à história recente ajuda a esclarecer alguns pontos.

A experiência da proibição do álcool nos EUA nos anos 1920 é um bom exemplo. O álcool é uma droga que pode causar dependência e danos sociais, então começaram a proibi-la, primeiro em nível estadual e, depois, nacionalmente. Esperava-se que maridos deixassem de espancar mulheres e filhos e que os acidentes fossem menos frequentes. Mas o que aconteceu? À medida que as pessoas se cansaram da proibição, mais gente começou a beber. A cerveja se tornou menos disponível porque os traficantes lucravam mais com bebidas destiladas. Inevitavelmente, a polícia passou a prender pobres que bebiam e vendiam álcool, enquanto drinques finos eram servidos nas residências dos governadores e na Casa Branca. Centenas de milhares de pessoas ficaram cegas, foram envenenadas e até morreram por ingerir bebidas alcoólicas ilegais e de péssima qualidade. Eventualmente, ficou claro que a repressão causava mais danos sociais do que o abuso de álcool cometido por uma pequena fração dos usuários. A proibição foi revogada e substituída por diferentes formas de controle e regulação locais e regionais para o mercado do álcool.

Agora vejamos o tabaco. O tabagismo e as mortes que ele causa caíram drasticamente nas últimas décadas como resultado de impostos mais altos, amplas restrições aos locais onde é permitido fumar e campanhas públicas de educação. Muitas pessoas acham que está na hora de proibir totalmente o consumo de cigarros. O que aconteceria? O número de fumantes e pessoas que morrem de câncer provavelmente iria cair ainda mais. Mas o que mais?

Milhões de pessoas continuariam a fumar, mas teriam que obter seus cigarros no mercado ilícito. O crime organizado seria dono de um negócio lucrativo, ganhando fortunas imensas, corrompendo governos e usando violência para proteger e expandir sua fatia de mercado. O sistema de segurança criaria divisões especializadas em repressão ao tabaco. A prisões transbordariam com infratores da lei do tabaco. Adolescentes seriam tentados pelo "fruto proibido"da droga agora ilegal. E até mesmo a onda produzida pelo tabaco se tornaria algo diferente, mais parecida com o crack de hoje.

Pensa sobre a proibição do álcool; imagine a criminalização do tabaco. Coloque o estigma de lado e entenda por que nós precisamos reformar as leis de drogas agora.

A proibição das drogas é a maior fonte de renda para o crime organizado, gerando violência e corrupção. Leis criminais mais duras apenas alimentam uma guerra que não pode ser vencida. No outro extremo, obviamente, a liberalização geral e irrestrita das drogas não é desejável, porque pode promover um aumento no abuso dessas substâncias.

A melhor política de drogas está no equilíbrio, reduzindo ao máximo o papel da criminalização e da justiça criminal no controle de drogas, ao mesmo tempo em que protege a saúde e a segurança dos cidadãos. Significa avançar na direção de tornar as substâncias lícitas, taxadas e reguladas para efetivamente controlar sua produção e distribuição e restringir o abuso. Significa colocar a saúde e o cuidado no centro das políticas de drogas.

Tome como exemplo a situação do crack nas ruas brasileiras. Se você pudesse, com um estalar de dedos, eliminar o crack da sociedade, acabaria o problema social da pobreza, das pessoas que vivem nas ruas e das crianças abandonadas? Será que essas pessoas em situação de vulnerabilidade ficariam livres das drogas ou voltariam a cheirar cola e gasolina ou ingerir álcool como costumavam fazer antes? Com a diferença de que não eram criminalizadas, porque essas substâncias são lícitas. Internação forçada ou tratamentos involuntários não são a solução para o problema do crack, Uma boa resposta, pautada pelo respeito aos direitos humanos, está na assistência social e na saúde mental, que oferecem estratégias mais baratas e eficazes do que o sistema de justiça criminal.

O Brasil, assim como os EUA, encontra-se na encruzilhada de uma transformação multigeracional na política de drogas. No meu país, a sociedade começa a dar sinais concretos: as últimas eleições no Colorado e em Washington legalizaram a maconha para uso adulto, 18 estados regularam a cannabis medicinal e a maioria da população do país hoje é a favor da regulamentação da maconha, como já é feito com álcool e tabaco.

Alguns países estão liderando uma mudança global de paradigma em direção à descriminalização, redução de danos e políticas de regulação, outros estão seguindo. A mudança está chegando. E o Brasil, onde está?

Ethan Nadelmann

Ethan Nadelmann é cientista político e diretor-executivo da ONG norte-americana Drug Policy Alliance. Ele esteve no Brasil nos últimos dias para o Congresso Internacional sobre Drogas, em Brasília, e um debate promovido pela Rede Pense Livre, em São Paulo. Tradução de Rebeca Lerer e Shelley de Botton.

Psicólogos veem "bolsa-crack" como retrocesso

Resumo da matéria:

"a proposta é obscura e pode fomentar um mercado de tratamento da dependência química, além de servir a interesses políticos. O Cartão Recomeço, que já está sendo chamado de "bolsa-crack", será lançado oficialmente amanhã (9) pelo governo estadual.
...
"as entidades serão escolhidas por capacidade técnica e regularidade de funcionamento, cujos parâmetros serão definidos em edital que será lançado nos próximos dias.
...
"falta de clareza da proposta. 'Não se sabe nada além do fato de que haverá um auxílio financeiro. Quais serão as diretrizes de tratamento? Quais serão os critérios para selecionar as entidades e os pacientes? No início do ano não havia verba destinada para isso no orçamento. E agora surgiu como política do governo estadual'
...
" 'Está se usando o clamor social e o desespero das famílias para estabelecer uma ação duvidosa, tanto no tratamento como na questão do controle social e da fiscalização do dinheiro que será aplicado. Já existem denúncias, Brasil afora, da associação destas entidades a parlamentares que defendem a internação compulsória'
...
" 'Temos políticas públicas para atender a população com problemas de dependência química. No entanto, elas não têm recebido investimento adequado. Mas dinheiro, nota-se que tem'
...
" 'É uma prática manicomial. No geral, essas comunidades não contam com atenção clínica ou grupos multidisciplinares, que é um princípio básico de atendimento estabelecido no âmbito do Sistema Único de Sáude (SUS). É simplesmente o isolamento e a abstinência forçados' (...) existem muitas denúncias sobre trabalho forçado, práticas de esgotamento, como ocupação contínua e horários extasiantes, relacionadas a tais comunidades.
...
" Giannini defende o fortalecimento de ações preconizadas no SUS, como atendimento multidisciplinar, Centros de Atenção Psicossocial (Caps), hospitais-dia, entre outros. Além disso, explica que o isolamento não deveria ser estimulado, pois 'questões psíquicas e de drogadição são sociais e não individuais'. E faz um alerta: 'Instituir a bolsa pode incentivar as famílias a buscar a internação, como se fosse a única solução, fazendo com que o tratamento se torne um mercado, desestimulando ainda mais o desenvolvimento de políticas públicas', avalia.
...
" há uma tentativa de confundir a comunidade terapêutica com a residência terapêutica. (...) Ambos concordam que o problema não é a existência das comunidades, mas o direcionamento de verba pública para fomentar o tratamento privado e sem relação com o SUS."


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Matéria na íntegra

Militantes e especialistas em saúde mental consideram um novo retrocesso contra o tratamento humanizado a proposta do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de conceder bolsas no valor de R$ 1.350 mensais, exclusivas para custeio do tratamento de dependentes químicos em comunidades terapêuticas privadas. Para os entrevistados, a proposta é obscura e pode fomentar um mercado de tratamento da dependência química, além de servir a interesses políticos. O Cartão Recomeço, que já está sendo chamado de "bolsa-crack", será lançado oficialmente amanhã (9) pelo governo estadual.

O benefício será concedido por um período de seis meses e deverá estar disponível em 60 dias. Não será possível sacar o benefício e o cartão será aceito apenas em entidades cadastradas. A proposta inicial é atender a 3 mil dependentes químicos maiores de 18 anos, que não conseguem atendimento devido à falta de leitos e equipamentos ocorrida após o início dos trabalhos do Centro de Referência em Álcool e Drogas (Cratod), em janeiro deste ano. Segundo a Secretaria de Assistência Social, as entidades serão escolhidas por capacidade técnica e regularidade de funcionamento, cujos parâmetros serão definidos em edital que será lançado nos próximos dias.

O conselheiro administrativo do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Joari Carvalho, chama atenção para a falta de clareza da proposta. "Não se sabe nada além do fato de que haverá um auxílio financeiro. Quais serão as diretrizes de tratamento? Quais serão os critérios para selecionar as entidades e os pacientes? No início do ano não havia verba destinada para isso no orçamento. E agora surgiu como política do governo estadual", analisa. Ele afirmou, também, que os conselhos estaduais de saúde e políticas sobre drogas não foram consultados sobre a proposta.

Carvalho teme a manipulação das pessoas para benefício de grupos políticos. "Está se usando o clamor social e o desespero das famílias para estabelecer uma ação duvidosa, tanto no tratamento como na questão do controle social e da fiscalização do dinheiro que será aplicado. Já existem denúncias, Brasil afora, da associação destas entidades a parlamentares que defendem a internação compulsória", pondera. E questiona o direcionamento de recursos para instituições privadas. "Temos políticas públicas para atender a população com problemas de dependência química. No entanto, elas não têm recebido investimento adequado. Mas dinheiro, nota-se que tem", pondera.

O presidente do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo, Rogério Giannini, avalia que a proposta é mais um passo atrás em um trajeto iniciado com as internações compulsórias. "É uma prática manicomial. No geral, essas comunidades não contam com atenção clínica ou grupos multidisciplinares, que é um princípio básico de atendimento estabelecido no âmbito do Sistema Único de Sáude (SUS). É simplesmente o isolamento e a abstinência forçados", afirma. Segundo Giannini, existem muitas denúncias sobre trabalho forçado, práticas de esgotamento, como ocupação contínua e horários extasiantes, relacionadas a tais comunidades.

Giannini defende o fortalecimento de ações preconizadas no SUS, como atendimento multidisciplinar, Centros de Atenção Psicossocial (Caps), hospitais-dia, entre outros. Além disso, explica que o isolamento não deveria ser estimulado, pois "questões psíquicas e de drogadição são sociais e não individuais". E faz um alerta: "Instituir a bolsa pode incentivar as famílias a buscar a internação, como se fosse a única solução, fazendo com que o tratamento se torne um mercado, desestimulando ainda mais o desenvolvimento de políticas públicas", avalia.

Para eles, há uma tentativa de confundir a comunidade terapêutica com a residência terapêutica. "As residências terapêuticas são utilizadas somente em casos extremos e propõe socialização, grupos de trabalho multidisciplinar, redução de danos e prática autogestionária que traz o dependente para o centro do tratamento, como parte dele." Por outro lado, as comunidades "propõem um tratamento religioso, baseado em orações e ocupação contínua, onde a participação de profissionais de saúde não é aceita". Ambos concordam que o problema não é a existência das comunidades, mas o direcionamento de verba pública para fomentar o tratamento privado e sem relação com o SUS.
O governo estadual informou que a iniciativa busca ampliar os locais de tratamento e a oferta de vagas para os dependentes químicos. O programa será gerido por um grupo de trabalho coordenado pelo professor titular do departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira. Nesta primeira fase, a gestão Alckmin vai cadastrar entidades que prestam serviço de internação em 11 municípios: Diadema, Sorocaba, Campinas, Bauru, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José dos Campos, Osasco, Santos e Mogi das Cruzes.
Fonte: Rede Brasil Atual

Fonte: http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=80477 

Brilhava assim sobre Auschwitz?

amei em cheio

meio amei-o

meio não amei-o

...........................................
arte que te abriga arte que te habita

arte que te falta arte que te imita

arte que te modela arte que te medita

arte que te mora arte que te mura

arte que te todo arte que te parte

arte que te torto ARTE QUE TE TURA
.................................

A tese segunda

Evapora em pergunta

Que entrega é tão louca

Que toda espera é pouca

Qual dos cinco mil sentidos

Está livre de mal-entendidos?


.....................................

Atrasos do acaso

Cuidados

Que não quero mais

O que era para vir

Veio tarde

E essa tarde não sabe

Do que o acaso é capaz …

.........................
Hoje à noite

Lua alta

Faltei

E ninguém sentiu

A minha falta

DATILOGRAFANDO ESTE TEXTO

ler se lê nos dedos

não nos olhos

que os olhos são mais dados

a segredos


.........................

O amor, esse sufoco,

Agora há pouco era muito,

Agora, apenas um sopro

Ah, troço de louco,

Corações trocando rosas,

E socos.


.............................

o mar o azul o sábado

liguei pro céu

mas dava sempre ocupado
................................
sorte no jogo

azar no amor

de que me serve

sorte no amor

se o amor é um jogo

e o jogo não é o meu forte,

meu amor?

..........................

Tudo dito,

Nada feito,

Fito e deito
..........................

Viver de noite me fez senhor do fogo.

A vocês, eu deixo o sono.

O sonho, não!

Este eu mesmo carrego!

...................

meio-dia três cores

eu disse vento

e caíram todas as flores

.................................

entre a dívida externa

e a dúvida interna

meu coração

comercial

alterna


...................

moinho de versos

movido a vento

em noites de boemia

vai vir o dia

quando tudo que eu diga

seja poesia

..................

noite sem sono

o cachorro late

um sonho sem dono


...........................

furo a parede branca

para que a lua entre

e confira com a que,

frouxa no meu sonho,

é maior do que a noite

.........................

primeiro frio do ano

fui feliz

se não me engano

...........................

não fosse isso

e era menos

não fosse tanto

e era quase


.................

entre os garotos de bicicleta

o primeiro vaga-lume

de mil novecentos e oitenta e sete

......................

a noite

me pinga uma estrela no olho

e passa

....................

na torre da igreja

o passarinho pausa

pousa assim feito pousasse

o efeito na causa

..................

um pouco de mão

em todo poema que ensina

quanto menor

mais do tamanho da china

.........................

entre

a água

e o chá

desaba

rocha

o maracujá

...............

duas folhas na sandália

o outono

também quer andar

......................

alvorada

alvoroço

troco minha alma

por um almoço


relógio parado

o ouvido ouve

o tic tac passado

....................

cortinas de seda

o vento entra

sem pedir licença

..........................

a estrela cadente

me caiu ainda quente

na palma da mão

..................

lua à vista

brilhavas assim

sobre auschwitz?


..................

lua de outono

por ti

quantos s sono

.....................

hoje à noite

lua alta

faltei

e ninguém sentiu

minha falta

................

milagre de inverno

agora é ouro

a água das laranjas

..............

coisas do vento

a rede balança

sem ninguém dentro

..................

tarde de vento

até as árvores

querem vir para dentro

.......................

morreu o periquito

a gaiola vazia

esconde um grito

..................

tudo claro

ainda não era o dia

era apenas o raio

....................

lua crescente

o escuro cresce

a estrela sente

"...a poesia está dentro da vida, e não a vida dentro da poesia."
Paulo Leminski

domingo, 12 de maio de 2013

O Mito do Leite - Lair Ribeiro


Tomar leite faz parte de um história recente. Há 10 mil anos não criava vaca. Os humanos pescavam e caçavam.

>Porque  maioria dos estudos não consegue demonstrar uma correlação positiva entre ingestão de cálcio na forma de produtos lácteos, e um equilíbrio do cálcio no organismo?

> Por que os países com menor consumo de leite e derivados tem menor incidência de osteoporose e fraturas ósseas?

> Por que nós humanos somos a única espécie q toma leite de outra espécie? Tb somos os únicos q tomamos leite estando adultos.

Pasteur fala q o outro estava certo: não é o micróbio q causa a doença é o terreno! Porque o micróbio vai se modificando d acordo com o terreno. 10 pessoas entram e uma sala. Um gripa e 9 saem sem gripe e o vírus tá lá pra todo mundo!

> As vacas leiteiras q viviam 20 anos hj vivem 6 anos e sõ mandadas pro corte. A produção de leite aumentou em 250% comparada a 50 anos atrás.

> Produtos lácteos não fazem parte d dieta na China, Japão, Vietnam ou Tailândia, no entanto os habitantes desses países tem uma txa das mais bixs de osteoporose e fratura óssea no mundo! (Hegsted, M. Fractures, calcium and modern diet. JCN 74 (2001) : 571-73)

> Os maiores consumidores de leite no mundo (Austrália, Nova Zelândia, América do norte e o Oeste europeu) tb tem a maior incidência de osteoporose e risco de fratura óssea!

Acha q porque osso é branco, leite é branco, vai direto pro osso, né? hehehe

> O número de americanos diagnosticdos com osteoporose aumentou 55% de 1995 a 2006!
(US Departament of Health and Human Services, agency for healthcare Research and Quality, "Osteoporosis-linked fractures rise dramatically" September 2009: ahrq.gov/research/sep09/0909RA36.htm)

7:27

A história do leite já é logo associado a relação com a mãe. Vai se criando um dependência pelo leite. Tem q quebrar esse paradigma.

(...)
Não tomo leite há mais d 30 anos. Me lembro q quando eu parei tive q quebrar esse paradigma d q leite era indispensável.
...
Começa q o leite q sai d vaca não é o mesmo d caixinha. Tem seus problemas mas pelo menos tem suas qualidades tb. (...) Com a pasteurização o leite fica totalmente estéril, até suas qualidades. 

> ntolerância a lactose:
Afroamericanos === 75%
Nativos americanos = mais de 90%
Asiáticos ======= mais de 95%

- Vc pode não ter intolerância a lactose, mas da sua quebra tem-se a galactose q pode gerar uma intolerância não identificável pelo teste d intolerância a lactose. 

- O ser humano pára de fabricar lactose em torno dos 4 ou 5 anos d idade em média! (Williams, SR. Nutrition and Diet Therapy, 7th Ed. (Mosby: St. Louis, 1993), p.41) Aos 9 já não tem mais nada produzido. 

> Leite não pode ser considerado um "sports drink", não previne osteoporose e possivelmente contribui para o desenvolvimento de câncer de próstata. (Physiciaans Committee for Responsible Medicine, Good Medicine 2., Spring 2001:23)

> Osteoporose é uma doença pediátrica com consequências geriátricas.Dr Duane Alexander

Mulheres q tem osteoporose hj esta começou aos 18. É um processo. 

> Estudos demonstram q leite de vaca não protege seres humanos contra fraturas ósseas do modo como nos foi ensinado, de fato, o alto consumo pode aumentar o risco de fratura. (Feskanich, D. et al. Milk, dietary calcium and bone fractures in women: a 12-year prospective study. AJPH 87 (1997):992-997)

O outro médico q acompnha esse estudo e foi substituído pelo "at al" acima é o W. Willet. Tem estudos e companha casos sobre esse assunto de correlação entre leite, cálcio e osteoporose há mais de 20 anos. 

- Mesmo com tantos estudos o q fz o leite continuar a ser incentivado por médicos e demais é a indústria que o vende!

> O cáclio existente no leite d vaca é muito pobre e a biodisponibilidade dele no leite da vaca é mt pequena.

A vaca não precisa tomar leite pra ter cálcio! Ela tem porque come verde!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Onde tiver verde tem cálcio! 

A biodisponibilidde do cálcio q vc come na verdura é mt maior do q a do leite.

-  Não é o cálcio q segura o osso! Pr ele conseguir segurar o osso tem q ter vitmina D3, magnésio. Como na maioria das pessoas faltam essas outras estruturas, o cálcio não fica no osso. O cáclio é depositado na artéria, causando aneurisma de aorta, carótida. 

- Quem fz suplementação com cálcio sozinho quer viver menos! 

> Comparação do leite humano com o leite da vaca:

Leite - nutrientes/100g
Proteína: vaca 4,0 / humano 1,1
CHO (carboidrato): vaca 4,9 / humano 9
Na: v 50 / h 16
P: v 97 / h 18
Ca: v 118 / h 33

O bezerro tem q dobrar de tamanho em menos tempo (47 dias) q o humano (180 dias). 

Esse cálcio todo da vaca só 32% é absorvido. 

Tem várias proteínas lácteas q tem esse potencial d causar intolerância, como a caseína. Mas a gente continua achando q leite faz bem.

- Pasteurização padrão - 71 graus Diferente d ultra-pasteurização a 150 graus q desnatura muito mais as proteínas q tem no leite. 

Tem q ter alguma coisa estranha nesse leite q vc pode tomar e q pode ficar até 6 meses fora da geladeira. 

Esse leite é MUITO diferente do d vaca!

>  Enfermidades relacionadas com  ingesta de leite de vaca:
artrite, enxaqueca, dor nas costas, esclerose múltipla, acne, doença cardíaca, alergia, asma, câncer de próstata. câncer de mama, obesidade, doença de parkinson, infertilidade, etc.

> Intolerância a lactose é diferente de alergia ao leite
Intolerância: é inabilidade de transformar a lactose em glicose.
Alergia o leite: podem ser as várias proteínas a darem alergia

- Mimetismo molecular
O anticorpo q acorda contra um grupamento existente na cadeia das proteínas do leite , não só atacará o leite como atacará tb o grupamento parecido q contenha no seu corpo. Se este gruapamento estiver no seu pâncreas, os anticorpos o atacarão. A mior ingestão de leite está relacionada, então, a uma maior incidência de diabetes tipo 1. 


> Sippy Diet
Tomar leite de 4 em 4 horas para úlcera.
Acreditava-se q quem tinha úlcera poderia se curar com leite. "Toma leite q é bom pro estômago". -> aumentou 600% o infarto o miocárdio. Tem 52 anos q sabemos q leite causa infarto, mas não ouvimos comentar! 
Abandonaram porque não resolvia.

26:08

> Ordenhação de vaca. 
Grande problema!

Pra vaca dar leite o tempo todo a fecundam artificialmente seguidas vezes. Então ela passa a produzir hormônios enquanto dá o leite pro outro bezerro q nasceu. 

A estrona aumenta 33 vezes no leite da vaca. É cancerígeno [pata nós]. Q era a causa do câncer d mm, de útero, de ovário. 

A mulher tem 10% d estrona. O perfil hormonal da vaca é diferente, é de 80% d estrona. No leite da vaca aumenta 33 vezes o nível d estrona porque ela está grávida.

Hj o leite mais saudável não adianta mais ir buscar a teta da vaca porque já nasce estragado.

> Concentração de estrona no soro do leite d vaca:
não prenhe: 30pg/ml
prenhe (entre 41 e 60 dias): 151 pg/ml 
prenhe (220-240 dias): 1000 pg/ml (aumentou 33 vezes de quando el não estava prenhe!)

- Ela vive 6 anos ao invés d 20 pq fica ali só pra dar leite. 


> Mulheres q tomam dois ou mais copos de leite tem um aumento de 66% no risco de desenvolverem câncer de ovário. 
(Harvard School of Public Health)

> Alta correlação com câncer d próstata

- Vitamina D ela é anti-câncer, anti-metástase. 

> Esclerose múltipla:
Diz q não tem cura. Claro. Continua tomando leite e continua desencadeando processos AUTO-IMUNES baseados naquela série d proteínas do leite já mostradas. Muitos processos imunes começam por causa do leite. 

> Retira o leite e melhora:
autismo
alergias
enxaquecas
câncer
doenças neurodegenerativas
osteoporose

--- Contaminação:

> Biomagnificação 
é o processo de concentração de um substância através da cadeia alimentar. 

> Leite está contaminado por:
= perclorato - (combustível de foguete q cai nas áreas d pasto) bloqueia a captação do iodo, dando problema d hipotireoidismo por aaí.
= retardante de chama
= pesticidas
= antibióticos: pq a vaca dando 70 ou 80 l por dia, mais leite do q devia, inflama as tetas
= substâncias radioativas
= hormônios / metais / bactérias /
= VIT A & D enriquecidos artificialmente no leite: não é grande coisa porque é outra substância, é para vegetal e não para pessoas. Só pra vender mais. 

> Hormônios de vaca no leite:
= 8 hormônios pituitários
= 7 hormônios esteroidais (E1, E3, P, T)
= 6 hormônios tireoidianos 
= 11 fatores de crescimento (pq o bezerro tem q dobrar d tamanho em 47 dias. Esse motivo vem do leite)

- Câncer
E fator de crescimento é proliferativo. Em ambiente propícia, causa câncer.

- Já foram isolados no leite 59 hormônios distintos de vaca no leite. 

- 87% do leite d vaca é composto d água.
2 a 3% de gordura...
Você pensa q essa é a quantidade de gordura no leite! Mas não. 2% de gordura em PESO. Claro, já que 87% do leite é água.
Mas em calorias, esses 2% de gordura em peso viram 37%. Então são 37% de gordura em calorias! Gordura saturada.


---- Saúde infantil

> O Dr. Benjamin Spock, famosa autoridade em saúde infantil cita no seu livro: leite de vaca causa perda intestinal de sangue, alergias, indigestão e contribui para alguns casos de diabete juvenil.

> Leite e saúde infantil:
= morte súbita infantil  (alergia ao leite)
= Asma  -quanto mais leite, mais asma
= autismo
= beta casomorfina 7 (proteína do leite pode causar:) - esquizofrenia - Dr. Robert Cade
= infecção de ouvido - tubo de eustáquio (criança costuma ter mais problemas q adulto)
= eczema/ cólica / constipação / colite
= diabetes tipo I / obesidade
= comportamento & aprendizagem (prejudica aprendizagem principalmente se vc tem alergia)
= Prosilac: hormônio de crescimento bovino; injeta na vaca pra dar mais leite.

> Humanos absorvem somente 32% do cálcio contido no leite da vaca. 
Ainda bem!

> A ingestão de leite de vaca e suplementação com cálcio não mostram nenhum benefício na prevenção de fraturas ósseas. 

> Suplementação de cálcio em mulheres saudáveis menopausadas aumenta o risco de infarto do miocárdio.

> Não é só o cálcio. É a relação cálcio magnésio q tem q ser proporcional na dieta. 
O cálcio q contem no leite é maléfico porque não traz o magnésio. O cálcio solto não vai pro osso. Se deposita em outros lugares e dá problema. 

> O verdadeiro problema da osteoporose
A maior parte do osso é composta de proteína.
Quem fez circular o mito de que leite era saudável foi T. Colin Campbell. [cont]
>  O esqueleto é constituído de dois tipos de ossos:
o cortical (exterior) ------ 80%
e o trabecular (interior) - 20%

A mineralização é só no trabecular.

Aos 80 ou 18 anos, mesma altura e peso, se for comparar as cinzas da cremação dá a mesma coisa, praticamente. O q resta ali são minerais. Então não tem menos calcio senão deveria pesar menos as cinzas do senhor d 80.

> Ingestão de cálcio nos USA versus China

USA - ingere 1,143 mg por dia
China - ingere 544mg por dia

A China ingere menos da metade do cálcio ingerido nos EUA, a fonte é primariamente vegetal em vez de láctea e a incidência de osteoporose apesar de epidêmica nos EUA, é um fenômeno raro na China! 

> Fatores q contribuem para a osteoporose:
alcool
tabagismo
anorexia
medicações
hipertiroidismo
histerectomia (lesa o ovário q pára d produzir progesterona q protege contra osteoporose)
cafeína
flúor
metais pesados
inatividade física
açucar

Desconhecido

"fascinação pelo desconhecido, que encanta sem necessariamente contar quem é"

Bem q essas palavras poderiam ser minhas....e d certa forma são!

sábado, 11 de maio de 2013

Manifestação que deveria ter sido pacífica dos professores

"acho que era dessa cena que a Bandeirantes falava na reportagem que ouvi ontem, enquanto estava longe da tv, quando se referia a uma manifestação que deveria ter sido pacífica, mas sua paz foi interrompida pela agressão desse professor monstruoso aos pobres PMs. ora, ora, que fascistinha, não é, Band?" Bem faladoJulya Tavares!



http://www.facebook.com/internationalriot

Pra que serve a utopia?

"Para que server a Utopia?

correção: Eduardo Galeano só citou essa frase, que na verdade é de Fernando Birri."

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que caminhe, jamais alcançarei. 

Pra que serve a utopia?
Pra isso! Pra que eu não deixe de caminhar."



http://www.facebook.com/umaoutraopiniao

Os políticos são a mentira

"Os políticos são a mentira legitimada pela vontade do povo."

José Saramago

A menina e o pássaro encantado – Ruben Alves



A menina e o pássaro encantado – Ruben Alves


A menina e o pássaro encantado
Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
 Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
 Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
 Tenho de ir  dizia.
 Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades  dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
 Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
 Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
 Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
 Que bom  pensava ela  o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
 Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
* * *
Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
As mais belas histórias de Rubem Alves
Lisboa, Edições Asa, 2003

Fonte: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2008/01/07/a-menina-e-o-passaro-encantado-ruben-alves/