"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na
parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido
brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que
canta, ainda existe gente que brinca."
Eduardo Galeano
"Os pensadores anarquistas integrais desses tempos antigos, se os houve, são
desconhecidos. É, porém, característico o fato de que todas as mitologias
conservaram a memória de rebeliões e, inclusive, de lutas nunca terminadas
de uma raça de rebeldes contra os deuses mais poderosos. São os Titãs que
assaltam o Olimpo, Prometeu desafiando Zeus, as forças sombrias que na mitologia
nórdica provocam o "Crepúsculo dos Deuses" e é o diabo que na mitologia
cristã nunca cede e luta a toda hora dentro de cada indivíduo contra o bom
Deus, e é esse Lúcifer rebelde que Bakunin tanto respeitava e muitos outros.
Se os sacerdotes que manipulavam esses relatos tendenciosos com interesse
conservador não eliminaram esses atentados perigosos à onipotência dos seus
deuses é porque as tradições que lhes serviam de base deviam estar tão arraigadas
na alma popular que não se atreveram a fazê-lo e apenas se contentaram em
desfigurar os fatos insultando os rebelde ou imaginando, mais tarde, interpretações
fantásticas para intimidar os crentes. Tal fez, sobretudo a mitologia cristã
com seu pecado original; a queda do homem; sua redenção e o juízo final. Essa
consagração e apologia da escravidão dos homens, das prerrogativas dos sacerdotes
como mediadores e essa postergação das reivindicações de justiça para o último
limite imaginável, ou seja, o fim do mundo. Por conseguinte, se não tivesse
havido sempre rebeldes atrevidos e cépticos inteligentes, os sacerdotes não
se teriam dado tanto trabalho."
M. N.
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