sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Versão publicada:
. Eu tinha dado essa música pra "mina" mãezinha (eu preferia maînha mas ela não gostava de jeito nenhum). Pra inspirar sua ternura na direção da alegria. Chamava de "mãezinha" porque era como uma declaração de amor todos os dias chamar por esse diminutivo. Porque não era como "Bom dia" ou como "Carlinha" que o pessoal chama quase no automático. Era pegar seu lugar na minha vida e chamar ela com carinho de volta pra mim até quando eu estava meio brava. Ou me levar lá até ela. Um ir e vir sem meio.

Palavra. Era tratamento pra mim, era tratamento pra ela, era cura também. Mesmo que eu não falasse nada, o toque aonde não doesse era mais certo que a fala.

Evitamos tanto que chegasse maio. Quando maio finalmente chegou, agora quero tanto que o tempo corra e que tudo seja mais suportável em volta da saudade delirante que fez esse mar de água doce. Exercício forte e delicado de não transformar todas as horas boas em algo dramático, numa alquimia de vida.

Meu umbigo, antes a ELA ligado, depois de livre, hoje é limitado. Eu pareço menos sem ter ELA, o umbigo dela, pra voltar do centro do Rio ou do quarto ao lado.

Penso o privilégio que é ter a morte como algo raro. Que é ser contra as torturas, as guerras que não tem mais nobres a frente, só governos a salvo. O vejo já ir votar a favor de matar bandido, mas rouba seus saldos, andando com falsos profetas e noticiários.

Volto as alegrias da mãe. Penso que isso não é mais importante do que a vida de ninguém. Saio de mim como todo mundo que acredita em vida após a morte e acorda em outro lugar. Para além da minha vida, aqui:  podemos fazer alguma coisa... isso me cansa, me encanta, me distrai, me salva.

Parece que agora sobra muito mais amor e eu continuo sem saber aonde colocar (tem gente que não tem esse problema). Tentando conviver aonde eu possa amar e dar sentido a todo o tempo junto e longe que passei pensando em voltar pra casa e estar com ela, cuidar. Agora sobra energia. Como não perde-la?

"Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo, presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto, flor do seu caminho

Eu apenas queria dizer
A todo mundo que me gosta
Que, hoje, eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar
é todo dia , toda hora
é se respeitar na sua força e fé
é se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte das novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida"
"Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo, presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto, flor do seu caminho

Eu apenas queria dizer
A todo mundo que me gosta
Que, hoje, eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar
é todo dia , toda hora
é se respeitar na sua força e fé
é se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte das novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida"

Gonzaguinha


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Eu tinha dado essa música pra mina mãezinha (eu preferia maînha mas ela não gostava de jeito nenhum). Pra inspirar sua ternura na direção da alegria. Chamava de "mãezinha" porque era como uma declaração de amor todos os dias chamar por esse diminutivo. Porque não era como "Bom dia" ou como "Paulinha, Carlinha" que o pessoal chama quase no automático. Era pegar seu lugar na minha vida e chamar ela com carinho de volta pra mim até quando eu estava meio brava. Ou me levar lá até ela. Um ir e vir sem meio.
Palavra. Era tratamento pra mim, era tratamento pra ela, era cura também. Mesmo que eu não falasse nada, o toque aonde não doesse era mais certo que a fala.

Evitamos tanto que chegasse maio. Quando maio finalmente chegou, agora quero tanto que o tempo corra e que tudo seja mais suportável em volta da saudade delirante que fez o caminho do choro tão ágil. Exercício emblemático de não transformar todas as horas boas em algo ruim, numa alquimia de vida. Pensar o privilégio que é ter a morte como algo raro e ser contra as guerras.

Parece que agora sobra muito mais amor e eu continuo sem saber aonde colocar. Tentando conviver aonde eu possa amar e dar sentido a todo o tempo junto e longe que passei pensando em voltar pra casa e estar com ela, cuidar dela. Agora sobra energia. Como não perde-la?

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Eu tinha dado essa música pra mina mãezinha (eu preferia maînha mas ela não gostava de jeito nenhum). Pra inspirar sua ternura na direção da alegria. Chamava de "mãezinha" porque era como uma declaração de amor todos os dias chamar por esse diminutivo. Porque não era como "Bom dia" ou como "Carlinha". Era pegar seu lugar na minha vida e chamar ela com carinho de volta pra mim ou me levar até ela lá. Um ir e vir sem meio.
Palavra. Era tratamento pra mim, era tratamento pra ela, era cura também. Mesmo que eu não falasse nada, o toque aonde não doesse era mais certo que a fala.

Vivemos enquanto não chegava maio.
Quando maio finalmente chegou, toda hora volto pro presente. O futuro não vem. Que tudo seja mais suportável daqui a 100 anos, mesmo em volta da saudade delirante que plantou esse mar atmosférico disfarçado de doçura. Disfarçado de futuro.

Exercício forte e delicado de não transformar todas as antigas horas boas em algo dramático. Exercício da semente de não confundir toda sua transformação com seu desaparecimento inútil. Ver hoje um dia, numa alquimia de vida, que onde tiver terra, semente é fruto.

Quando um religioso disser que você não acredita em nada, é, você vai lembrar porque ele não pode crer em tudo. A gente é o que faz com o que acredita e o que fazem com a gente. A gente tenta lidar com a liberdade de viver e nossa responsa com a vida das outros. Principalmente as mulheres. Ah, as  mulheres!

Meu umbigo, antes a ELA ligado, depois livre, hoje é limitado. Eu pareço que ando solta sem ter ELA, o umbigo dela, pra voltar do centro do Rio ou do quarto ao lado.

Penso o privilégio que é ter a morte como algo raro. Que é ser contra as torturas, as guerras que não tem mais nobres a frente, só governos a salvo.

Lembro das alegrias da mãe e que isso não é mais importante do que a vida de ninguém. Saio de mim como todo mundo que acredita em vida após a morte e acorda em outro lugar. Podemos fazer alguma coisa... isso me cansa, me encanta, me distrai, me salva.

Mulher... Parece que agora sobra muito mais amor e eu continuo sem saber aonde colocar. Acho que o mundo inteiro quando segue ordens cegas falhou. Deve ter morrido na família deles alguém importante e junto dele, tudo que importava.

Tento conviver "aonde" eu possa amar e dar sentido a todo o tempo junto dela. E longe dela que passei pensando em voltar. Agora sobra energia. Como não perde-la?

A forma mais próxima da alegria da minha mãe eu procurava e conhecia. Até onde eu podia entender, era a bobeira dela, a arrogância também (uma forma de festejar todo seu conhecimento), seus desenhos sérios espetaculares, nossos desenhos bobos, um namorado que arranjasse e fizesse ela fazer tudo de que era capaz. As tristezas eram grandes. Algumas podíamos mudar. Outras eu fazia parte. Eu falvaa no tom mais simples nos momentos mais difíceis que eu a amava. Nos momentos ainda mais difíceis eu dizia como ela era fabulosa, como eu via seu esforço e sua beleza de ser, que ninguém precisa ser exemplo de nada quando está difícil. E ouvia como era difícil. O pior era o abandono das pessoas nesse caminho. Pessoas que não conheceram o amor dessa época como nós. Cansaço era momento de faze-la dormir ou de dizer o quão incrível ela sempre seria. Várias vezes também não estive nesses momentos. Quando um dia ela conseguia ser grata por ser amada, surgia energia imensa não sei de onde. E a vontade era apertá-la. A felicidade era tanta que acho q nunca descrevi isso pra ela. Vindo de mim, ela precisava saber. Mas ela sabia...


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Versão original:

Eu tinha dado essa música pra mina mãezinha (eu preferia maînha mas ela não gostava de jeito nenhum). Pra inspirar sua ternura na direção da alegria. Chamava de "mãezinha" porque era como uma declaração de amor todos os dias chamar por esse diminutivo. Porque não era como "Bom dia" ou como "Paulinha, Carlinha" que o pessoal chama quase no automático. Era pegar seu lugar na minha vida e chamar ela com carinho de volta pra mim até quando eu estava meio brava. Ou me levar lá até ela. Um ir e vir sem meio.
Palavra. Era tratamento pra mim, era tratamento pra ela, era cura também. Mesmo que eu não falasse nada, o toque aonde não doesse era mais certo que a fala.

Evitamos tanto que chegasse maio. Quando maio finalmente chegou, agora quero tanto que o tempo corra e que tudo seja mais suportável em volta da saudade delirante que fez o caminho do choro tão ágil. Exercício emblemático de não transformar todas as horas boas em algo ruim, numa alquimia de vida. Pensar o privilégio que é ter a morte como algo raro e ser contra as guerras.

Parece que agora sobra muito mais amor e eu continuo sem saber aonde colocar. Tentando conviver aonde eu possa amar e dar sentido a todo o tempo junto e longe que passei pensando em voltar pra casa e estar com ela, cuidar dela. Agora sobra energia. Como não perde-la?

A forma mais próxima da alegria da minha mãe eu procurava e conhecia. Até onde eu podia entender, era a bobeira dela, a arrogância também (uma forma de festejar todo seu conhecimento), seus desenhos sérios espetaculares, nossos desenhos bobos, um namorado que arranjasse e fizesse ela fazer tudo de que era capaz. As tristezas eram grandes. Algumas podíamos mudar. Outras eu fazia parte. Eu falvaa no tom mais simples nos momentos mais difíceis que eu a amava. Nos momentos ainda mais difíceis eu dizia como ela era fabulosa, como eu via seu esforço e sua beleza de ser, que ninguém precisa ser exemplo de nada quando está difícil. E ouvia como era difícil. O pior era o abandono das pessoas nesse caminho. Pessoas que não conheceram o amor dessa época como nós. Cansaço era momento de faze-la dormir ou de dizer o quão incrível ela sempre seria. Várias vezes também não estive nesses momentos. Quando um dia ela conseguia ser grata por ser amada, surgia energia imensa não sei de onde. E a vontade era apertá-la. A felicidade era tanta que acho q nunca descrevi isso pra ela. Vindo de mim, ela precisava saber. Mas ela sabia...

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