Compartilhsdo por Fernanda Moraes - Coletivo Guilherme I.
"Sobre a seletividade da comoção da esquerda
Lula foi pobre, mas quando teve o poder em mãos, deixou de olhar o mundo sob o olhar de um pobre, passou a olhar o mundo do alto de seus privilégios políticos, uma casta social tão nociva quanto a burguesia, especialmente no Brasil. Romantizar a figura dele, ao meu ver, é exagero. Agora que sua prisão é iminente há uma comoção de uma esquerda falida e decadente, pois há comoção popular, esta, nem ao menos conseguiu se obter. Fala-se em desobediência civil e dizem que "esta luta vale a pena". Acho positivo que a esquerda tenha encontrado uma luta que valha a pena e se movimente (sem ironias), mas acho uma grande pena que tantos Rafaeis Bragas por aí não tenham sido lutas que valham a pena, acho triste que tantos Guaranis, Altamiras e Marés não tenham valido a pena.
Acho triste que não tenha sobrado um pouquinho dessa solidariedade petista quando um companheiro anarquista foi defender uma moça contra o choque durante os protestos contra a Copa e no processo apanhou até perder dentes. Não sobrou solidariedade petista, mas sobrou ódio "não vai ter dentes" foi o que as páginas petistas disseram a ele nas redes sociais.
Que pena que só agora a esquerda tenha lembrado o significado de desobediência civil, pois quando os black blocs lutavam pelos direitos dos professores recebiam notas de repúdio e eram entregues por esta mesma esquerda legalista numa bandeja. Os professores não valem tanto quanto o Lula? Talvez em seus discursos sim, mas em suas práticas a história se mostrou outra.
Fosse outra época eu estaria rindo da ironia do PT ter alimentado esse "Estado policial" durante todo o período que esteve no poder, assinando em baixo de intervenção na Maré, intervenção da força nacional em Altamira para construir hidroelétrica e até da criação de um mega banco de dados para monitorar movimentos sociais na ABIN, esta última, assinada pelo próprio Lula. Agora este mesmo "Estado policial" se volta contra eles, tarde demais para uma autocrítica, mas não para recordarmos e nos mantermos atentos aos fluxos que a história toma.
Torço, de coração, para que essa "justiça" arbitrária que recai hoje sobre Lula sirva para a esquerda brasileira abrir seus olhos.
Uma luta que valha a pena ser lutada não é uma luta seletiva, que apenas se comove quando líderes emblemáticos caem. Uma luta que valha a pena ser lutada é diária, não é só sobre Lula, é sobre Rafaeis Bragas e DGs, Cláudias e Amarildos, e toda a periferia assassinada diariamente. Sobre Guaranis e todos os nativos que vem sendo exterminados, independente do político que assume.
Na minha opinião, vale a pena lutar pelos de baixo, muito mais do que lutar pelos de cima."
(Não fui que escrevi)
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