domingo, 3 de novembro de 2013

Derrubada da Perimetral e mentiras!

Na cidade dos carros, vão derrubar a Perimetral a base de mentiras

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Poderia ser algum tipo de piada de mau gosto, mas não é. Vão demolir o Elevado da Perimetral. E pior: sob o argumento de se estar construindo uma cidade para pessoas, com recursos privados, no Rio Olímpico. Será mesmo?
"A Perimetral é um dos maiores símbolos de uma cidade que foi pensada para os carros e não para as pessoas", disse Alberto Silva, o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (CDURP). E completou: “O que a gente quer com isso é o contrário, pensar uma cidade muito mais para as pessoas”.
No Rio de Janeiro “para pessoas” estão sendo construídas três vias expressas: BRT Transcarioca, Transolímpica e Transoeste. Ao colocar a sigla BRT (Bus Rapid Transport), quer se destacar a pista exclusiva para ônibus, mas que na verdade é acompanhada de várias pistas para carros. Vias que estão cortando subúrbios - ali sim espaços para pessoas - e que estão sendo destruídos. O impacto social é dramático: milhares de famílias removidas de suas casas para dar passagem a automóveis individuais.
Em julho de 2013, o grande Rio alcançou a marca de 2.765.841 (dois milhões, setecentos e sessenta e cinco mil automóveis), e o número não para de crescer. São colocados em média 400 novos carros por dia em circulação, ou 12 mil por mês, segundo dados de 2013 do Denatran. E isso sem contar motos, comionetes, micro-ônibus, etc.
Pois bem, nesse ponto podemos esclarecer a primeira mentira: o Rio de Janeiro não está sendo construído para as pessoas, muito menos para o transporte coletivo. Está sendo construído para os carros, com todas as consequências negativas que isso gera à cidade
O segundo ponto importante é em relação a origem dos recursos do projeto Porto Maravilha. Segundo a Prefeitura do Rio, a iniciativa privada estaria bancando todas as obras da região, como a derrubada da Perimetral, a construção do Museu do Amanhã e a recuperação da infra-estrutura urbana com novos calçamentos e aberturas de ruas.
Mas quem adquiriu todos os 6,4 milhões de certificados vendidos pela Prefeitura ao custo de R$ 3,5 bilhões foi o Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha, controlado pela Caixa Econômica Federal,com recursos do FGTS. Agora o Fundo terá que revender os títulos para recuperar o investimento. Na primeira tentativa, o mercado não se interessou. O Estado assumiu o risco, através de um banco público, para viabilizar o projeto que está sendo divulgado como possível através de recursos privados.
Ou seja, não é verdade que os recursos são privados, eles vêm do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, dos trabalhadores. A estratégia da Prefeitura, com o apoio da mídia, é repetir uma mentira mil vezes para virar verdade.
O terceiro mito é a capacidade da Perimetral de degradar a zona portuária. Está claro que elevados, assim como vias expressas, prejudicam bairros residencias com seu excesso de carro, barulho e fumaça. São as consequências de se viver numa cidade que estimula o uso diário do automóvel individual para mobilidade urbana.
Mas os bairros da região portuária poderiam se recuperar e atrair novos residentes sem a demolição da Perimetral, com investimento em ruas agradáveis, praças e comércio, recuperando seus bairros históricos. Até porque o elevado passa à margem das zonas residenciais. O altíssimo custo da demolição poderia ajudar muito na recuperação dessa e de outras áreas da cidade.
Não foi a Perimetral em si que degradou a zona portuária, mas sim seu absoluto abandono e falta de investimento pelo poder público.
É nesse contexto, portanto, que derrubar uma estrutura como essa mostra toda incoerência de uma Prefeitura baseada no marketing. Decide-se demolir um elevado útil e em boa conservação para ser substituído por uma via expressa. Continua-se investindo em um sistema de transporte irracional, baseado na habilidade individual de cada condutor e que um erro pode gerar o caos na cidade, apesar do discurso contrário.


Ao colocar a Perimetral abaixo, a Prefeitura quer projetar para o mundo a imagem de uma cidade para pessoas, num Rio que virou um canteiro de obras para a construção de túneis, pontes e vias expressas. Cada vez mais vivemos numa cidade para carros. Resta saber se dessa vez o marketing vai conseguir superar a realidade das horas perdidas no trânsito já caótico e que poderá se tornar insuportável.
Quem sabe a queda do elevado não leve junto um entrave muito maior para o Rio de Janeiro: o próprio prefeito Eduardo Paes.

  Fonte: Cidades Possíveis - por uma cidade plural: sociologia, economia, política, comunicação, arquitetura e urbanismo

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