Relevo, contorno, lua
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Se deus existisse, ele não teria que dividir seu tempo com o diabo. Se deus não existisse, certamente a lua voltaria a ser outra deusa. Pela sua presença, pela sua bondade, pela sua fúria estática, pela sua beleza independente de maldade. Enquanto o sol sai, ela zela, voltando o sol pra noite, pra dentro da janela. Toda luz q falta na cidade lembra ela. A luz da cidade apaga a noite. Não acende a noite como ela. No campo quando ela não está, o escuro ainda é mais seguro que na cidade uma clara viela.
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Se deus existisse ele seria a única testemunha do sacrifico q é manter esse corpo sem dor. Manter um corpo sem dor pra ser mais feliz comigo e com os outros. Pra ter mais paciência com a dor do outro. Sem dor é mais fácil de entender q a minha dor não é maior q a dor do outro. Todos os dias antes da pedir, eu pergunto: como vc está? Todo dia depois de acolher alguém na minha vida eu quero dizer: como eu estou. Venha só se for pra ser mestre tb. Venha pra trocar. Q mestre q só ensina é charlatanisse cara. A gente não precisa mais perder tempo achando q beleza não vem de dentro.
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Como deus não existe preciso da raiva pra sair da inércia e aprender a sair dela quando a raiva não veio, porque o encanto ainda estava se separando do engano. Preciso da calma e da tristeza pra tomar decisões melhores. Preciso da felicidade pra receber todo esse amor q vem chegando, q eu cultivo, q eu quero merecer tanto.
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Relevo de relaxamento. Tarsila contornos. Surgindo da noite enluarada, desenho, fotografa, testa, nariz, sorriso no meio, uma garganta falante, entre seios . Seios do rosto, seios do peito, tão desejados pela criança q queria ser mulher. Dedos da mão, dedos do pé, q perde a graça infantil pra defender e ser protegida quando não dá pé. Joelhos q apontam ao mesmo tempo, pro sorriso do início e pro fim do corpo.
Sem a lua não teria tido tanta epifania. Ela emoldura simples e momentâneas alegrias.
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Além d tudo, mais alguém pra dividir, essa casa, esse corpo. As pernas fazem a forma d um coração louco.
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Amar o que tem de amor.
Lua e rede. Rede, essa barriga de mãe. Lua, esses olhos d universo!
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