sábado, 17 de fevereiro de 2018

Cronologia: segurança pública e reforma da previdência

"Cronologia:
Duas semanas atrás: O governo e empresários percebem que, impopular, a reforma da previdência não irá passar.

Uma semana atrás: Moradores da comunidade Morro dos Macacos, em Vila Isabel, me contam que o boato lá é de que as polícias militar e civil receberam ordem de cima para que liberassem a bandidagem para "tocar o terror na cidade durante o carnaval." Posto o ocorrido no Facebook, achando meio cara de teoria da conspiração. Pezão e Crivella saem do Rio.

Durante o carnaval: De fato a bandidagem "coloca o terror na cidade", não mais violência do que já acontecia e sempre aconteceu nas periferias, mas há mais violência visível. Principalmente em pontos e bairros turísticos cobertos por câmeras. A polícia só chega no último dia de carnaval. A opinião pública, só agora se choca com uma violência que acontece de forma cotidiana a décadas. Formadores de opinião, moradores da Zona Sul, postam em suas colunas de jornal ou redes sociais que "O Rio de Janeiro acabou. Que a situação está insustentável. Que algo agudo precisa ser feito já." Em comum, nenhum deles sabe apontar no mapa onde fica comunidades como a do Morro dos Macacos. Temer observa, sorri, e agradece em silêncio.

Após o carnaval: É anunciada Intervenção Militar no Rio de Janeiro. A mesma que, para fins de segurança, já não deu certo em ações como a do Complexo da Maré, por exemplo. A opinião pública aplaude, aliviada. Não aprendeu a lição da ala "Manifestoches", da Paraíso do Tuiutí. Os poucos que sacaram e que querem ir para a rua protestar já não podem, porque estamos sob intervenção. A esquerda Zona Sul é a primeira a cair no golpe - gasta energia preocupada com o militares (sendo que quem vai sofrer na pele será a diarista que faxina suas casas) e comprando ingresso para o desfile das campeãs no sábado, para postar no instagram e aplaudir a Tuiutí, escola da qual nunca haviam ouvido falar antes mas que consideram desde criancinha. A rotina militar da cidade não muda, posto que é a mesma desde Vargas. Milhares são torturados todos os dias em delegacias da baixada fluminense sem que se grite por eles.

Um mês após o carnaval. O congresso está fechado a emendas constitucionais por conta da intervenção militar no Rio de Janeiro. A reforma da Previdência torna-se definitiva moeda de troca política. A intervenção militar é suspensa. É votada e aprovada, finalmente, a reforma da previdência.

Governo e empresários respiram aliviados.

Agosto de 2018. Agora já não adianta mais nenhum projeto de esquerda ganhar as eleições presidenciais. O projeto conservador garantiu o direito dos patrões pelas próximas décadas.

2019. A violência no Rio de Janeiro volta a níveis "normais" para a opinião pública: continua acontecendo, só que de volta e restrita aos cantos invisíveis das periferias.

Nada muda na comunidade do Morro dos Macacos."

Marcos Vinicius A. De Souza

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