Advogados Ativistas e Observadores Legais registram o primeiro dia da ‘Copa do Caos’
Demonstration report – FIFA 2014 World Cup Opening Day, São Paulo
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Colectives: Advogados Ativistas e Observadores Legais (Activists Lawyers and Legal Observers)
O dia iniciou-se em São Paulo com o sítio à cidade, exercido pelas forças de segurança pública empregadas pela Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Exército, entre outros agentes de segurança. Das 9h30 até o fim do dia osquarenta integrantes dos Observadores Legais observaram, relataram e compilaram os seguintes dados sobre a atuação policial:
· Segundo atendimento realizados pelo grupo de socorristas, GAPP, durante o dia foram realizados ao menos 37 socorros a manifestantes, decorrentes de diversos tipos de lesões, como ferimentos por estilhaços de bombas, balas de borracha, asfixia por gás lacrimogênio e mecânica decorrentes de esganadura, bem como de reiterados golpes de cacetetes.
Foram realizadas ao menos 47 detenções, sendo que diversas prisões sequer eram informadas aos advogados, ou permitido o acompanhamento visual da atuação policial.
· bloqueio de vias e interdição de ao menos parte do transporte público, com a finalidade de comprometer a mobilidade dos manifestantes e, desta forma, sua tendência de deslocamento em direção ao perímetro de exclusão imposto pela FIFA – organizador da Copa;
· revistas pessoais realizadas por policiais em transeuntes, sem qualquer fundamentação legal;
· policiais trajados com farda sem tarjeta de identificação funcional ou identificação alfanumérica de 10 dígitos, ou ainda de modo a não evidenciar qualquer tipo de identificação;
· policiais portando armas de fogo (inclusive de grosso calibre comometralhadoras e escopetas 12mm) durante contenção e operações antidistúrbio;
· civis atingidos por estilhaços de bombas, balas de borracha, golpes de cacetete e socos;
· intimidação e constrangimento ilegal contra manifestantes por meio de gritos e gestos ameaçadores;
· impedimento de atuação dos advogados durante o acompanhamento de revistas pessoais, bem como no registro de material probatório, quando das agressões ou abusos de autoridade;
· impedimento, com violência deliberada, de atuação dos jornalistas no exercício da profissão, tendo sido tomados como alvo por reiteradas vezes pelas forças de segurança;
· impedimento da atuação dos Observadores Legais na coleta de material estatístico e probatório durante a manifestação, por meiosostensivamente impeditivos;
· seguranças do serviço privado do metrô realizando revistas pessoais nos usuários, de modo totalmente ilegal;
· prisões ilegais infundadas, justificadas como sendo para averiguação – instrumento, aliás, inexistente no ordenamento jurídico brasileiro. No ano em que se completa o cinquentenário da ditadura militar no Brasil (1964-1985), é no mínimo irônica a utilização de um expediente tão característico período ditatorial.
· tiros de armamento balístico menos letal e elastômero (bala de borracha), feitos acima da linha da cintura – como indicam os orifícios feitos a bala nos para-brisas de veículos, a cerca de 1,5m do solo.
· veículos atingidos no seu interior por bombas de gás-lacrimogênio.
· policiais militares e supostos policiais civis (não fardados), em duas ocorrências distintas, com agressão e rapto de manifestantes, introduzindo-os a força em veículos descaracterizados, não oficiais. Sem direito de registro do nome do condutor, evadindo-se os veículos para local desconhecido, perante a população que registrava as ocorrências em vídeo e foto, em plena luz do dia.
· depois de registrar cenas de espancamentos perpetrados por policiais militares, um manifestante, por eles perseguido, refugiou-se em residência próxima àquela ocorrência, obtendo guarida dos proprietários da casa. Somente depois de aproximadamente uma hora de refúgio– com a Polícia Militar todo o tempo à frente do imóvel – foi possível a retirada do manifestante perseguido, em segurança, na companhia de representantes dos Advogados Ativistas e Observadores Legais;
· utilização de bombas com data de vencimento raspadas;
· acusações de crimes infundadas aos manifestantes, com diversas tentativas de flagrantes forjados;
· agressão deliberada de policiais militares a uma criança de nove anos de idade e seu cão, sem motivação;
· agressão reiterada a equipes de socorristas que insistiam na prestação do socorro às vítimas dos próprios agentes de segurança;
· tentativa, por parte dos policiais militares, de esvaziamento de uma estação do metrô, obrigando os usuários a saírem rapidamente da estação sob tiros e golpes de cacetete.
Por fim, uma última abordagem nos parece pertinente quanto aos agravos sofridos pelos diversos indivíduos envolvidos na resistência às forças policiais:
ADVOGADOS
- advogada atingida por bomba de gás lacrimogênio, antes mesmo do início da manifestação, lançada com o intuito de dispersar um grupo reduzido, de aproximadamente 20 pessoas;
- advogado no exercício da profissão, tolhido brutalmente, prensado contra viatura policial, jogado ao chão e, desta forma, levado ao estado de semiconsciência;
- advogado, no exercício da profissão, alvejado por bomba de gás lacrimogênio, a qual terminou por prender-se entre sua mochila e o próprio corpo, resultando em asfixia e queimadura. O mesmo advogado ainda foi atingido na face por soco desferido por policial militar em outra ocasião;
- atendendo a solicitação de uma equipe de observadores legais que estavam sofrendo a apreensão dos equipamentos, relatórios e câmeras, um advogado, no exercício da profissão, teve o seu documento apreendido para verificação de antecedentes criminais, colocando-o em situação de averiguado.
OBSERVADORES LEGAIS
- tentativa de apreensão, por parte da Policia Militar, de conteúdo apurado ao longo do dia, em relatórios e câmeras, pelos Observadores Legais;
- mesmo que comunicados previamente em suas intenções às autoridades policiais e governamentais, os Observadores Legais sofreram diversas revistas pessoais sem fundada suspeita – como é exigido por lei, denotando perseguição a si enquanto registravam conduta policial;
- um Observador Legal foi ameaçado de morte por policial militar sem identificação;
- a quase totalidade dos Observadores Legais foi intimidada por policiais militares no exercício da função;
- uma observadora legal, com atuação internacional em Direitos Humanos, teve a perna atingida por diversos estilhaços de bomba detonada a poucos centímetros do seu corpo e dos demais observadores do grupo;
- um observador legal foi truculentamente impedido por diversos policiais de realizar acompanhamento de abordagem policial, tendo a roupa rasgada e o pescoço ferido.
SOCORRISTAS
- impedimento da atuação dos socorristas, importando na negação absoluta ao socorro e ferindo, dessa forma, todas as recomendações da OMS no que diz respeito à humanização em saúde, particularmente no que respeita o atendimento pré-hospitalar;
- agressão reiterada a equipes de socorristas que insistiam na prestação do socorro às vítimas dos agentes de segurança;
- alvejadas por balas de borracha (à cerca de dez metros e acima da linha da cintura), socorristas foram impedidas de prestar socorro a um profissional da imprensa atingido por estilhaço de artefato do arsenal da Polícia Militar.
- socorristas sofreram três revistas infundadas pela Polícia Militar no trajeto de dois quarteirões.
IMPRENSA
Jornalistas acabaram por ver-se tão acuados quanto os demais atores da manifestação, na medida em que estes os buscavam como um possível “porto seguro”, independentemente do tipo ou nacionalidade dos profissionais envolvidos. Por exemplo:
– CNN
- Associated Press
- TV Aasahi
- NPR
- FA Press
- Sigma Press
- SBT
Fonte: Advogados Ativistas
http://advogadosativistas.com/advogados-ativistas-e-observadores-legais-registram-o-primeiro-dia-da-copa-do-caos/
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