Essas semanas caíram as primeiras chuvas significativas aqui na cidade de São Paulo. Quem já aproveitou para crescer e garantir seu lugar ao sol foi a Buva, uma erva que nasce no mundo inteiro. E, não por acaso, é o a planta mais odiada do mundo (pelos agricultores)! As principais espécies são a Conyza bonariensis e a Coniza canadensis, ambas de uso similar e aqui tratadas como "buva". Seus nomes populares incluem rabo de foguete, rabo de de rojão, voadeira, buba e capetiçoba. Dá pra ver que o povo é criativo com nomes...
Na realidade, ela é odiada, mas não como tempero. Até porque eu ainda acho que o tempero mais polêmico por seu sabor é o coentro! A buva, por si só, nem é vista como tempero. Os grandes produtores, os latifundiários e monocultores a veem como praga agrícola, do pior tipo possível. Ela é capaz de reduzir em até 48% a produtividade de sistemas de produção de trigo, milho e soja no Brasil. Ou seja, tem um impacto enorme para o produtor, que quer se ver longe dela o mais rápido possível. Mas a buva venceu.
Depois de décadas usando venenos como o glifosato na agricultura, a buva sofreu uma mutação e ficou resistente ao herbicida. Tentaram aumentar a dose, e mais uma vez, a buva saiu ilesa. A natureza zombando das monoculturas.
Ela é aquela planta com jeitão de mato, mesmo. Nasce espigada, comprida, sem nenhum atrativo: folhas opacas, ásperas, flores pequenas e desinteressantes, porte comprido e desengonçado. Realmente, a buva não é das plantas a mais bela, porém é muito, muito perfumada.
É uma planta fina e muito comprida, chegando a mais de um metro de altura, sustentada por uma haste fina, recoberta de muitas folhas escuras.
A buva é uma planta excepcional. Ela resiste a todos os tipos de solo, de ambiente e de temperatura. Consegue florir e crescer mesmo nascendo entre frestas de concreto. A única coisa que ela não suporta é falta de claridade.
Ela é presente em pastos, plantações e pomares, porque cresce onde nenhuma outra consegue. Solos compactos, envenenados de fertilizantes e defensivos, secos e endurecidos. E ela prospera. Por essa razão, é presente no mundo inteiro, uma invasora competitiva muito, muito forte. Ainda, produz inúmeras sementes minúsculas, que viajam no ar como flocos de algodão, e podem ir muito longe.
Pesquisando sobre o aroma, achei um fato curioso: dependendo da localidade, do clima e do solo, além da variedade local, a buva pode ter um cheiro completamente distinto. Num estudo feito com plantas na europa, os aromas predominantes nas folhas são de limoneno e manool nas folhas da Conyza bonariensis. Na sua irmã, a Conyza canadensis, ricos valores de limoneno e trans-a-bergamoteno. No Brasil, diferentes proporções foram encontradas, como você pode encontrar aqui. Dentre eles, destaque para os aromas cítricos (limoneno), aromas herbais de lâmio, manjericão e orégano (β-farneseno, germacreno D) e de cravo (β-caryophylleno).
Assim, imagine o sabor: seus principais compostos lhe dão aroma de cravo, orégano e frutas cítricas, em especial o sabor do limão e rúcula, com uma nota picante de fundo. Mas isso pode variar, claro. A unica coisa em comum é sua suave picância e o aroma herbal.
Eu fico aqui pensando se os produtores que usam veneno na buva já pararam para cheirar suas folhas. Será que não viram o enorme potencial de de extração de óleo essencial para perfumes, alimentos e fármacos? Pelo visto, ainda não.
Pode ser usada para temperar pratos fortes, assados ou ainda num molho para salada. Refogada fica um pouco forte para ser comida pura, e tende a amargar (imagine comer manjericão refogado!). Então, nem pensar em usar a buva como vegetal, porque seu sabor é muito forte. Na Argentina, na Coréia e no Japão eu encontrei registros de uso - todos como erva consumida esporadicamente ou como tempero. Já servi sem avisar para familiares e amigos e todo mundo gostou, porém não conseguiu identificar o sabor.
Dessa vez, não há receita. Use a buva para temperar a comida da mesma maneira que usaria um manjericão, tomilho ou hortelã. De preferência, no final do prato, para que seu aroma não se perca.
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Molho simples: azeite, limão, sal e muita buva picadinha |
E você, já viu a buva por aí? Já usou? Como gosta de consumir?"
Fonte: Matos de Comer
http://www.matosdecomer.com.br/2014/09/o-tempero-mais-odiado-do-mundo.html?m=1
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Pancs em Ariquemes - RO - buva
Texto:
Marcos Roberto Furlan - Eng. Agrônomo - Professor universitário
Mariana Emerick Silva - Acadêmica de Eng. Agronômica - UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Espécies do gênero Conyza se espalham em quase todo o Brasil. Além da facilidade de dispersão de suas sementes, tem se observado resistência aos herbicidas. Importante ressaltar que uma das defesas da espécie contra os princípios ativos do herbicida é gerar biotipos diferente.
A competição com as espécies cultivadas é justificativa para muitos classificarem as espécies do gênero Conyza como plantas daninhas. No entanto, algumas são consideradas comestíveis, como, por, exemplo, a Conyza bonariensis, cujos nomes populares são buva, capiçoba, erva-lanceta e voadeira, dentre vários outros.
As espécies de Conyza mais comuns, e comestíveis, se diferenciam nas folhas. C. bonariensis possui folhas não denteadas, ao contrário da C. canadensis.
De acordo com Lorenzi e Kinupp (2014), na medicina popular, a C. bonariensis é usada como antiácida, contra tosse e para tratamento de diarreias e hemorroidas. Na culinária, os autores, em sua publicação fornecem as seguintes receitas: calzone de buva, picadinho de aruanã com buva e risoto de buva.
Referência:
KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, Harri. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil. São paulo, Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.
Foto: buva (Conyza sp).
Fonte: Mariana Emerick Silva