sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Fala e não faz...

Um homem que fala e não faz
é como um jardim cheio de ervas daninhas
e quando as ervas começam a crescer
é como um jardim cheio de neve
e quando a neve começa a cair é como um pássaro na parede
e quando o pássaro finalmente voa
é como uma águia no céu
e quando o céu começa a trovejar é como um leão a porta
e quando a porta começa a ceder
é como uma punhalada nas suas costas
e quando sua costas começam a doer
é como uma faca no seu coração
e quando seu coração começar a sangrar
você esta morto
e morto.

[...]

Su: minha irmã me passou! Segue a dúvida: quem escreveu isso?

sábado, 23 de agosto de 2008

Benjamin, Quintana e mais!

"A essência do brincar não é um 'fazer como se', mas um 'fazer sempre de novo', transformação da experiência mais comovente em hábito. (Benjamim, 2002, p.101-102)"

"As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade. (Mário Quintana, porta giratória)"

"A solidariedade é tão frágil quanto o verniz da civilização, 'cada um por si, Deus, por todos'."

"As crianças brincam com o interdito (...). A brincadeira parece só ter espaço para se estabelecer porque o mundo está literalmente na desordem, no caos. (...) aquilo que barraria a barbárie, ou seja, a interdição, não se instalou; por isso, resta às crianças trazer de volta à cena o impedimento, a privação."

livro: imagens do desaprender, de Adriana Fresquet (organizadora)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Imagens do Desaprender

Texto do Livro "Imagens do Desaprender"

Na reflexão feita acerca das teorias do cinema, há seis maneiras de entendê-lo. Uma delas é o cinema como linguagem. Ele fala como que além de evoluir "O significado das palavras também pode involuir, ou esvaziar-se, como diz o poeta, ao falar de uma RUÍNA:

" Um monge descabelado me disse no caminho: 'Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha idéia era fazer alguma coisa ao modo de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser de um gato num beco ou de uma criança presa em um cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado ao arcaico ou ainda de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode renascer do monturo.' E o monge se calou descabelado" (Manoel de Barros, poesia falada, v.8). "

-----Su: lindo!

É engraçado que para abrigar do abandono se tenha como objetivo construir algo “ao modo de tapera” o q engrandece o abandono do qual se trata! Porque tapera quer dizer:
“[Do tupi = 'aldeia extinta'.]
S. f. Bras.
1. Habitação ou aldeia abandonada.
2. Casa arruinada.
3. Fazenda inteiramente abandonada e em ruínas. ”
Ou seja, criar algo já em ruína para abrigar é uma condição que se quer dar bem modesta a algo que nem isso possui. Não é facilmente dar a vida a tal coisa que ele deseja, mas dar a condição mais simples e por isso (talvez) a necessária para um Renascimento. Se vc dá todas as condições que já conhece, só recria algo que já existia.
Fala do esvaziamento da PALAVRA amor como se já mais que arruinado ele estivesse, e até de ruínas precisasse... É mais sensato falar da palavra, pois seria muito difícil discutir o sentimento em si.

A meu ver essa palavra anda meio sozinha. A mistificação q se criou em torno dela encanta mais do q a realidade de vivê-la. E pela pressa de sentí-la acabam por correr atrás mais do título. O investimento pessoal fica nublado, à deriva, duvidoso... e quando a sensação de ser amado vai embora, vc fica sem saber se houve sentimento!

-----Sobre o Autor:
-
"...E por falar em ruínas, um dos poemas de Ensaios Fotográficos fala do seu desejo de construir uma, mesmo sabendo que a ruína é o estado final da coisa. “Sou eu querendo desconstruir a própria linguagem, as palavras, querendo chegar ao simples”, afirmou.

(fonte: http://www2.uol.com.br/JC/_2000/0305/cc0305a.htm)

- Em entrevista diz:
"Havia um certo fascínio em mim por cidades mortas, casas abandonadas, vestígios de civilizações. Um fascínio por ruínas habitadas por sapos e borboletas. Eu gostava de ver alguma germinação da inércia sobre ervinhas doentes, paredes leprentas, coisas desprezadas. As fontes de minha poesia, estou certo, vêm de errâncias desurbanas."

"
Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'."

(fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/castel09.html)